Eu, como uma apaixonada pela obra da Clarice Lispector não poderia deixar de citar dois xodós que compilam textos de suas contribuições para jornais:
- Uma já citada aqui no blog é o Correio Feminino, de 2006. Consiste em uma seleção de textos extraída de suplementos femininos assinados sob pseudônimos por Clarice Lispector nos jornais Correio da Manhã e O Comício, e como ghost-writer de Ilka Soares no Diário da Noite. Segundo a organizadora Aparecida Nunes, a divisão do livro em cinco blocos “caracteriza o percurso de Clarice no ofício de falar para mulheres em linguagem acessível e sobre assuntos que interessam à natureza feminina”. Mostrando-se mobilizada pela questão da emancipação da mulher, a colunista une entretenimento à informação, dá conselhos sobre beleza, culinária, moda e medicina, e ainda incita mudanças no comportamento das leitoras. É um retrato de hábitos e tendências da mulher brasileira nas décadas de 1950 e 1960.
“As pessoas que se comprazem no sofrimento, que gostam de sentir-se infelizes e fazer aos outros infelizes, jamais poderão orgulhar-se de sua beleza. O mau humor, o sentimento de frustração, a amargura marcam a fisionomia, apagam o brilho dos olhos, cavam sulcos na face mais jovem, enfeiam qualquer rosto. Essa é a razão porque a mulher, que cultiva a beleza, deve esforçar-se para ser feliz. Felicidade é estado de alma, é atmosfera, não depende de fatos ou circunstâncias externas.
- O outro que ainda não tenho em casa, mas já folheei, o Só para mulheres, de 2008. A publicação dá prosseguimento ao resgate da obra jornalística de Clarice Lispector, iniciado em 2006, com o livro Correio feminino. Esta nova coletânea – organizada por Aparecida Maria Nunes, doutora em literatura brasileira pela USP – recupera as colunas femininas assinadas pela escritora sob os pseudônimos de Tereza Quadros e Helen Palmer, e como ghost-writer da atriz Ilka Soares, para o tablóide Comício e os jornais Correio da Manhã e Diário da Noite, nas décadas de 50 e 60. São mais de 290 textos inéditos, com a elegância característica de Clarice e organizados na forma de conselhos, receitas e segredos, tratando com habilidade e leveza os assuntos prosaicos do cotidiano de todas as mulheres. Uma verdadeira viagem ao tempo em que o dito “sexo frágil” tinha como sua única função ser a “rainha do lar”.
“Sejam vocês mesmas! Estudem cuidadosamente o que há de positivo ou negativo na sua pessoa e tirem partido disso. A mulher inteligente tira partido até dos pontos negativos. Uma boca demasiadamente rasgada, uns olhos pequenos, um nariz não muito correto podem servir para marcar o seu tipo e torná-lo mais atraente.
Desde que seja seu mesmo.” (Helen Palmer)
São leituras curtas, gostosas e superatuais que nos atraem e permitem releituras constantes. No momento estou me dedicando à leitura da biografia dela (por Benjamin Mozer) e me apaixonando pelo livro! Depois que acabar eu conto como foi esta viagem, que por enquanto tem se revelado uma delícia. Não dá vontade de parar de ler.