Arquivo para romanos

Safo tem obra relançada

Posted in Cultura e Arte with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 9, 2017 by Psiquê

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Um belíssimo resgate à obra de Safo de Lesbos, foi o presente que a Revista Cult trouxe nesta semana. E o Espartilho, resolveu, homenagear este relançamento.

Seus versos foram imitados por poetas gregos e romanos. Pela potência de sua lírica amorosa, foi chamada de décima musa, ao lado das tradicionais nove filhas da Memória. Subverteu a ordem patriarcal da sociedade grega, tornando-se modelo para poetas homens de toda a Grécia.

Apesar dessa dimensão, quase nada se sabe sobre quem foi Safo. Provavelmente nasceu no século 7 a.C em Mitilene, capital da Ilha de Lesbos, próxima à costa da Ásia Menor. A palavra lésbica, anacrônica para se referir à Safo, tem raízes na ilha em que a poeta nasceu. Mantinha uma escola só para mulheres, na qual as professoras eram amantes das alunas, à maneira da tradicional pederastia masculina ateniense.

Compunha seus versos celebrando o amor homoerótico entre mulheres, no contexto ritualístico e performático dessa escola. Foi exilada, por questões políticas, por volta de 650 a.C. na Sicília. Desconhece-se a causa de sua morte.

A dificuldade de delinear quem foi Safo de Lesbos ocorre tanto pela distância histórica quanto pela sua dupla condição de mulher e lésbica, afirma Guilherme Gontijo Flores, tradutor, poeta, professor de Letras Clássicas da UFPR e responsável pela tradução dos Fragmentos completos de Safo, publicado neste mês pela Editora 34.

“Por ser mulher, a sociedade grega patriarcal dava menos valor à sua biografia, havia muito menos interesse em sua história do que em sua poesia. Esse fascínio é tardio, e quando começa a surgir, tem um segundo empecilho, o lesbianismo”, afirma Gontijo Flores. Hipóteses de que a poeta teria se suicidado pelo amor de um homem ou de que teria sido uma cortesã são, segundo ele, tentativas de apagar esse dado de sua biografia.

A partir do século 19, no entanto, foi justamente a sua sexualidade que passou a provocar interesse no público. Segundo Gontijo Flores, esse lugar “fora do eixo” de Safo abre espaço para o questionamento dos valores do cânone literário ocidental, além de ser “fundamental para discussões de gênero”, uma vez que ela foi a fundadora do canto amoroso homossexual no ocidente.

Safo compunha poesia para ser cantada ao som da lira. Por conta dessa tradição oral, suas composições só começaram a ser estabelecidas em texto por volta do século 3 a.C. Dos nove livros que registravam sua produção poética, compilados pelos eruditos da Biblioteca de Alexandria, restaram apenas um poema completo, ‘Hino a Afrodite, e cerca de duzentos fragmentos.

A nova tradução, que Gontijo Flores começou a preparar há dois anos apenas como “experiência afetiva”, sem pretensão de publicar, reúne todos esses fragmentos conhecidos, inclusive um encontrado em 2004 e dois recém-descobertos em 2014.

Mulher, homossexual, a poeta grega vai contra toda tradição literária ocidental. Para Gontijo Flores, a obra de Safo faz o leitor perceber que outra história da literatura era (e ainda é) possível. Uma que não seja centrada na narrativa heterossexual masculina. “Se eu abro o cânone a partir de Safo há uma chance política tanto para repensar o presente e suas possibilidades como para fazer uma revisão histórica profunda.”

Paulo Henrique Pompermaier

Publicado originalmente na Revista Cult

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Cleópatra

Posted in Comportamento, Curiosidades with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 13, 2011 by Psiquê

Não dá para negar o fascínio que Cleópatra evoca não apenas em mim, mas também nas mulheres em geral. Confesso estar superansiosa para a estréia da regravação do filme, em que a rainha do Egito será interpretada pela Angelina Jolie. Não vejo a hora de estrear…

Na última edição da Bienal do Livro no Rio de Janeiro, em 2011, comprei o livro Cleópatra, uma Biografia, da americana Stacy Schiff, lançado no Brasil pela editora Zahar e que deve ser adaptado para a tela grande com Angelina Jolie no papel da última rainha do Egito. Confesso que a narrativa da história desta personagem aguça a curiosidade, pois trata-se de alguém que aparentemente conseguiu conciliar o lado forte e sedutor de uma mulher.

Quem também teve a oportunidade de escrever sobre o livro foi Beatriz Alessi.

Parece não ter havido nenhuma outra mulher na história que tenha deixado mais marcas no imaginário feminino que Cleópatra! Poderosa, rica, sedutora e mais influente que qualquer mulher antes ou depois dela, Cleópatra ainda tem muito a nos ensinar, mais de dois mil anos depois da sua morte.

Culta, obstinada, fluente em nove idiomas e uma estrategista nata, no auge do seu poderio Cleópatra controlava toda a costa oriental do Mediterrâneo, também por ter caído nas graças de dois senhores do mundo romano: César e, depois, o protegido dele, Marco Antônio.

Mais do que a “rainha rameira” ou a fêmea interesseira e insaciável, Cleópatra era uma estadista sofisticada que amealhou um império que nada deixava a desejar à glória que o Egito havia conhecido sob seus ancestrais ptolomaicos.

Como bem lembrou Beatriz, somos todas herdeiras de Cleópatra. Numa era de tanto protagonismo feminino, um tempo de mulher, não fará mal nenhum ao nosso ego nos espelharmos naquela que deu tanta visibilidade e poder à condição feminina que fez nascer uma idade de ouro para as mulheres em Roma.

Se Cleópatra hoje parece ser lembrada mais como a rainha que seduziu dois senhores romanos é porque foi mais confortável para a história atribuir o sucesso de uma mulher à sua beleza do que à sua inteligência. Ainda que ao contrário do que suas representações no cinema querem mostrar – mulheres lindas e sedutoras – Cleópatra parece não ter sido tão linda assim, mas foi uma estrategista de primeira e sedutora sim, ao usar usa esperteza, inteligência e intuição feminina para conquistar povos, reinos, homens e bens.