Ontem passei uma tarde em Paris, sem sequer ter ido até aquela deliciosa cidade…
Consegui finalmente visitar a Exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade, no CCBB do Rio de Janeiro, até o próximo dia 13/01. Em seguida, assisti ao belíssimo filme de Sophie Lellouche – Com: Alice Taglioni, Patrick Bruel, Woody Allen, intitulado, Paris-Manhanttan.
Vou partilhar com vocês a resenha feita por
Rafael Oliveira, porque eu concordo com a análise dele: O cinema francês está entre os mais fascinantes e irresistíveis que há. Prova disso, é de lá que vieram cineastas cultuados como Jean-Jacques Annaud, Claude Chabrol, Alan Resnais, Jean Renoir e diversos que fizeram e marcaram a fama deste cinema que é conhecido pela leveza e também por sua importância dentro do desenvolvimento da sétima arte ao longo dos anos. E é de lá que a diretora estreante Sophie Lellouche lança seu filme-tributo para o diretor, ator e roteirista Woody Allen, autor de obras-primas como
Manhattan,
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e
Hannah e Suas Irmãs.E antes Lellouche ficasse só nisso. Suas referências e citações a algumas obras de Allen são simples, porém dignas de um apaixonado pela carreira do diretor: em certo momento, a protagonista Alice (um claro alter-ego da diretora e que é interpretada pela atriz Alice Taglioni) sai de dentro de um cinema onde está estampado na frente o cartaz de
Match Point – Ponto Final, e logo em seguida descobrimos que tratava-se de uma maratona dos filmes do diretor que estava sendo exibida no tal cinema. Alice ainda possui um pôster enorme de Allen na parede do seu quarto, com o qual dialoga pedindo conselhos.
Paris-Manhattan poderia ter aliviado o leve gosto de decepção que deixou ao final se focasse apenas na devoção de Alice pelas realizações do cineasta (ela até fica com raiva quando alguém diz que não gostou de Manhattan), porém Lellouche decide incrementar no meio disto tudo uma história de romance batida e clichê, subtramas desnecessárias e momentos que visam “endeusar” a figura de Allen de forma desnecessária.Numa rápida comparação entre a diretora com o próprio Allen, esta parece se acometer do mesmo problema que tem tomando algumas produções recentes do diretor, como
Scoop – O Grande Furo e
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos. Paris-Manhattan é repleto de boas intenções, possui uma embalagem agradável e aquele clima de leveza que somente as produções francesas conseguem ter, mas falta engodo, falta história pra contar. De tanta inflação, os curtos 70 minutos de projeção parecem ser mais longos do que realmente são, vejam só.
Tudo é muito previsível e quadradinho. Alice é aquela típica adulta rebelde que vai contra o desejo da família em conhecer alguém, casar e ter filhos. Em algum momento, ela conhece Victor (Patrick Bruel), um sujeito charmoso com o qual pouco simpatiza no inicio, mas aos poucos descobre que nutre sentimentos mais fortes por ele. Pronto, este é o banquete. O desenrolar de toda essa trama segue a mesma cartilha de qualquer romance hollywoodiano que vemos aos montes anualmente, sendo que além da protagonista insossa, a química entre o casal pouco funciona, o que impede o público de construir algum vinculo com esta sequência da trama. E curiosamente, Bruel serve como contraponto a pouca expressividade de Taglioni, já que ele faz bem o sujeito cavalheiro e engraçado por natureza.
E Lellouche, no fundo, quer ser Allen, uma vez que está tudo lá, os diálogos filosóficos e espirituosos, os personagens deslocados e até mesmo as piadinhas que visam ser inteligentes. Em alguns momentos estes artifícios funcionam, em outros não. Há também momentos que visam enaltecer a figura e a obra de Allen desnecessariamente, afinal, ele é Woody Allen, e não precisa disto. O resultado é o vergonhoso momento do assalto à farmácia de Alice, que culmina num desfecho inverossímil e completamente fora do contexto da obra.
Assim sendo, o melhor de tudo são as referências e citações que fluem naturalmente, e que comprovam a paixão de Lellouche e da protagonista Alice naturalmente, sem querer mostrar tal devoção de forma gritante. E para tanto, o filme reserva uma pequena aparição ao final que, apesar de todos os problemas da obra, acaba fazendo valer a pena.
Confesso que não sou fã de Wood Allen, pelo contrário, só gostei de suas obras mais recentes. Match Point e Meia Noite em Paris são meus prediletos, mas gostei do filme. Ele é leve, romântico, gostoso, flui docemente, uma graça! Vale a pena aproveitar e ver a despeito das ressalvas apresentadas anteriormente.