Arquivo para homem

A falsa ideia romântica que está arruinando nossa vida sexual

Posted in Comportamento, Sexo with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 2, 2015 by Psiquê

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Sabemos que, ao marcar um encontro com nosso parceiro, é difícil que os dois cheguem exatamente na mesma hora no local combinado; e que, por uma questão de lógica, um dos dois terá de esperar pelo outro. No entanto, no que se refere ao sexo, continuamos obcecados pela ideia de “chegar juntos”. Mais do que uma fantasia, parece dessas coisas a serem ticadas na lista de tarefas, ou, mais ainda, uma prova pela qual a nossa vida sexual teria de passar.

Não se trata de algo novo, pois já nos anos 60 os pais da sexologia moderna, Masters e Johnson, explicavam que a ideia do orgasmo simultâneo como símbolo de superioridade sexual do casal é totalmente equivocado, e que “o esforço para coordenar reações fundamentalmente involuntárias leva o homem e a mulher a começarem a se observar mentalmente em vez de se entregarem às sensações do ato sexual”. Conforme destacaram em seu livro Human Sexual Inadequacy, quando os membros do casal assumem um “papel de espectador”, é fácil ocorrer a perda da ereção no caso do homem e a impossibilidade de atingir o orgasmo no caso da mulher.

Por mais que essa ideia tenha sido então desmistificada, o curioso, no entanto, é que, anos depois, ainda pareça tão difícil destroná-la. Referindo-se a um ambiente aberto e intelectualizado como a universidade, o estudo Sexualidade dos estudantes universitários, realizado na Faculdade de Medicina do Chile, revela que 57,6% dos entrevistados ainda vê o orgasmo simultâneo como um dos principais objetivos da relação sexual.

A verdadeira sincronia

Antes de tratar da ideia do orgasmo simultâneo, convém fazer uma reflexão sobre o orgasmo nos casos dos dois sexos. De acordo com um recente estudo da Universidade de Indiana sobre a variação do orgasmo conforme a orientação sexual, tantos os homens quanto as mulheres costumam atingir mais frequentemente o orgasmo em relações mais estáveis do que quando solteiros. A pesquisa inclui alguns dados que apontam nessa direção: cerca de 85% dos homens atingem o orgasmo com parceiras estáveis, com pouca diferença no que tange à orientação sexual, enquanto nas mulheres essa taxa é globalmente de 62,9%, destacando-se que chega a 74,7% em casais homossexuais. Esses dados mostram, portanto, que, se já é difícil que tanto o homem quanto a mulher atinjam o orgasmo no mesmo ato, como não poderia ser ainda mais difícil atingi-lo exatamente ao mesmo tempo?

Os sexólogos Manuel Fernández e Berta Fórnes apresentam em seu livro 100 perguntas sobre sexo o conceito de “sincronia sexual”, explicando que “com cada parceiro com que nos relacionamos temos de poder nos sincronizar para que a relação funcione”, ou seja, que “a sincronia sexual será a confluência de duas pessoas que, com suas inúmeras diferenças, conseguem se unir em uma vida sexual prazerosa para ambos”. Nada que tenha a ver com os orgasmos. Dessa forma, os especialistas tratam de questões como sincronizar a tomada de iniciativas, ou seja, o equilíbrio entre quem dá início à relação sexual; o nível de desejo e de frequência, já que nem sempre as duas pessoas estão com o mesmo desejo nem se sentem satisfeitas com a mesma frequência; os rituais, ou seja, se temos os mesmos gostos no que se refere às práticas sexuais; e, por último, a expressividade, ou seja, se expressamos o afeto e o desejo pelo parceiro da mesma forma.

O orgasmo delas dura mais

Embora se possa conseguir fazer com que o casal tenha uma sexualidade compartilhada e satisfatória para ambos, isso não se traduz necessariamente em chegar ao clímax ao mesmo tempo, pois não se deve esquecer que os dois membros do casal nem sempre dão a mesma resposta sexual. Apesar de os já citados Masters e Johnson, em seus estudos pioneiros sobre a sexualidade humana, terem indicado que na resposta sexual dos dois sexos há mais semelhanças do que se pensava inicialmente, como, por exemplo, que o ciclo de reação sexual (excitação, planalto, clímax e resolução) era igual nos dois sexos, eles registraram também que ocorrem diferenças no desenvolvimento dessas etapas quando o parceiro é do outro sexo.

Entre elas, como destaca a sexóloga Ana Belén Rodríguez, do Centro SEES, está o fato de que “em regra geral, a duração do orgasmo masculino é menor do que a do orgasmo feminino”. Na verdade, analisando os conhecidos gráficos que representam a resposta sexual masculina e feminina, podemos observar que na mulher é mais comum que ocorram diferentes tipos de resposta, e que todas costumam concordar com um tempo de planalto mais longo do que no caso masculino, e por isso costuma ser difícil que o momento do clímax coincida no tempo.

Não se pode esquecer também que não há homem e mulher iguais, e que as respostas sexuais de cada um nem sempre se ajustam aos modelos estabelecidos. “Cada pessoa tem seus ritmos e suas próprias respostas de excitação e formas de alcançar o clímax sexual; tentar fazer com que duas pessoas diferentes cheguem ao mesmo tempo ao orgasmo é bastante complicado”, insiste Ana Belén Rodríguez, que esclarece que “o mais provável é que não se consiga devido a estas diferenças individuais, mas de alguma maneira socialmente aprendemos que o lógico e o mais prazeroso é chegar ao mesmo tempo”, uma ideia que só nos leva a limitar nossa sexualidade a alguns padrões pré-estabelecidos, apesar da riqueza que pode ser conseguida em si.

Do prazer à obsessão

Dando um passo além, a realidade é que essa obsessão por conseguir alcançar o orgasmo ao mesmo tempo leva os casais a muitas frustrações. O primeiro ponto a se levar em conta é que a ideia do orgasmo simultâneo continua perpetuando a ideia de que o orgasmo é a única finalidade do ato sexual. A este respeito, a sexóloga insiste que “se pensamos desta forma, podemos nos frustrar e cercar de uma ansiedade desnecessária e má companheira na viagem do prazer sexual. Não é necessário esclarecer que ansiedade e prazer são conceitos que não combinam”.

De outro lado, a especialista também destaca que focar o encontro sexual em conseguir este objetivo representa “um excessivo controle das sensações, que às vezes pode produzir os efeitos contrários, como dificuldades de ereção no homem e baixa excitação na mulher”. Mesmo assim, destaca a ideia de que, como tudo na sexualidade, concentramos somente em uma parte de sua prática é negativo, porque nos limita. “Obter um nível extra de excitação ao chegar ao orgasmo ao mesmo tempo em que seu parceiro é maravilhoso e pode ser um tempero interessante no jogo sexual, mas se a pessoa só se sente satisfeita desta forma, talvez quando não aconteça e, o que é o mais provável, comecem os problemas. Por que não abrir as opções?”, acrescenta.

Pratique consigo mesmo

Se você tem tudo isso claro e quer, simplesmente, buscar esse orgasmo simultâneo como mais uma brincadeira, entre outras, de casal, sem pressões, e com o objetivo mais de experimentar e explorar a sexualidade do que de chegar ao clímax, a especialista acrescenta algumas ideias. Para começar, a importância de se conhecer primeiro e de, por que não, experimentar sozinho com nosso autoerotismo: “Se conheço perfeitamente meus gostos e minhas reações físicas, minha resposta sexual e seus componentes psicológicos, fica mais fácil controlar minha excitação e meu orgasmo”, diz. Sem dúvida, convém praticar a comunicação entre o casal, pois se queremos buscar a mesma meta será difícil conseguir isso sem conhecer em que parte do caminho está o outro. Assim, é interessante indicar ao parceiro quão excitado você está e ir explicando do que gosta ou não. “Modular a excitação fará parte do jogo”, conta a sexóloga.

Por fim, a diretora do Centro SEES afirma que também podemos trabalhar o controle sobre nosso orgasmo, por exemplo, através dos exercícios de Kegel, ainda que, mais do que ficarmos obcecados por trabalhar os músculos envolvidos no ato, pode ser mais lúbrico para o casal procurar as posturas que mais excitam ou favorecem o clímax. “E, sobretudo, levar em conta o componente psicológico do orgasmo. Não se pode esquecer que às vezes, mais do que uma resposta de nosso corpo, trata-se de uma reação de nosso cérebro. Por exemplo, em certas ocasiões o orgasmo do outro nos excita tanto que nos faz chegar ao nosso próprio, sem que exista uma premeditação ou uma técnica consistente para isso”, acrescenta.

Com todas essas ideias, vamos tentar o orgasmo simultâneo; e, se não conseguirmos, teremos aproveitado enquanto isso, como o casal merece, mesmo que não apareça em nenhum livro.

Fonte: El País

Apaixonada? Não, nasci assim!

Posted in Comportamento, Cultura e Arte with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 10, 2015 by Psiquê

994e3d2dea0f4196c676364ac06cfc46 Este texto foi publicado originalmente no portal Obvious Mag por Vanessa Rossi e eu achei muito bem escrito. Aliás, o Obvious reúne textos muito legais…já compartilhei outras vezes e agora divido com vocês esta deliciosa escrita, que resume muito bem o que é estar apaixonada pela vida e por diversas sensações e experiências pelas quais ela nos permite passar…

Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda…a roubá-la! (Lou Salomé)

Toda vez que me perguntam se estou apaixonada, respondo que eu nasci assim. Uma maneira sútil de me esquivar de certos tipos de respostas. Mas a verdade é que eu nasci apaixonada mesmo. Dessas paixões incuráveis. Romance de Shakespeare. Não há quem cure. Tanta redundância e fixação em torno da paixão, motivo de discussões desde Platão até Nietzsche, digo que a minha paixão não recorre em torno de uma outra individualidade, mas sim da multiplicidade de pessoas, sensações, acontecimentos que a vida é capaz de promover. Sou apaixonada pela vida antes de tudo; e não entendo a paixão como um acontecimento que se dirige a alguém especifico; Estar apaixonado apenas por alguém é empobrecer o vocabulário. Paixão é algo mais amplo: Podemos ser apaixonados por uma pessoa, por mais de uma pessoa, pelos amigos, pelo trabalho, por viagens. E por tudo isso. É dessa paixão que sou acometida; dessa perceptibilidade acurada. O apaixonado é sensível; é perceptível a coisas que os apáticos não percebem. O apaixonado vê de maneira diferente uma paisagem. Vê diferente a pessoa que lhe agrada. Até os defeitos são minimizados; As mancadas perdoadas. O apaixonado é mais feliz. Lou-Salome-portrait Aproveito para me dirigir a uma personagem (Verdadeira paixão do filósofo Nietzsche) que foi o verdadeiro símbolo das relações e dos conflitos da mulher apaixonada na modernidade. Lou Salomé, intelectual russa* que enfatizou muito em seus escritos as questões do amor. Vale a pena pesquisar sobre sua vida e obra. A paixão pela vida e por tudo que ela pode oferecer, a transgressão, a coragem de pensar e questionar o aparentemente inquestionável; A coragem de permitir-se viver como se deseja e não como a sociedade e a moral estabelecem, são virtudes de um apaixonado. Até porque para criar a própria história é preciso acreditar nela. É preciso destruir os tabus. É preciso derrubar a opressão que a cultura patriarcal criou em torno da mulher. Lou é o modelo da luta da mulher que deseja a ligação romântica, sem no entanto perder sua própria individualidade ou ser dominada pelas impressões machistas do parceiro. É possível ser apaixonado e ser livre. A paixão não deve satisfações. É anárquica, independente. Paixão é todos os predicados possíveis, dentro de uma patologia que foge aos diagnósticos médicos. Paixão pode nos levar a atitudes incríveis. Pode também nos despersonalizar a ponto de não nos conhecermos. Termino esse texto com meu poema predileto da artista, que pra mim traduz todas as aspirações de quem transborda essa paixão, essa força dentro de nós que não se explica:

“Ouse, ouse…ouse tudo! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda…a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!”

* correção minha, pois a autora disse que ela era alemã, mas ela nasceu na Rússia.

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Oral

Posted in Erotismo, Sexo with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 13, 2014 by Psiquê

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Li na revista GQ Brasil de outubro passado (edição 43), um texto bem interessante de Mariliz Pereira Jorge, que compartilho aqui com vocês.

“Sexo oral é como beijo na boca, tem que encaixar. Com uma diferença: se a gente não gosta do beijo de cara é difícil que a situação se reverta, porque ninguém dirá algo como “feche mais a boca”, “não enfie a língua na minha garganta”, “pare de babar”. O beijo é o curriculum vitae do amor na prática. [ e como…] É a primeira aprovação para aqueles três meses iniciais. A gente não desiste de uma relação no início por várias razões, por causa do beijo rescindimos o contrato.

Mas dificilmente alguém pula fora porque o sexo oral é ruim ou só dá para o gasto. Infelizmente nem sempre quem ajoelha reza com louvor. Nem é falta de fé, é falta de jeito. Bate uma insegurança enorme de todos os lados. Talvez você não tenha certeza até hoje onde raios fica o ponto G, duvide mesmo de sua existência. A mulherada passa pelas mesmas incertezas. Ainda mais quando está com um parceiro novo.

Uma coisa fique bem clara: tem mulher que sente medo de pinto. Algumas têm nojo. E há várias que não sabem exatamente o que fazer com ele. O mundo está um pouco diferente – ainda bem – e a gente conquistou aos poucos o direito de transar com quantas pessoas quisermos. Mas, ao longo da vida, as mulheres ainda têm menos parceiros sexuais do que os homens. Isso significa menos experiência, menos rebolado na hora de cair com a boca na botija. Merecemos um crédito se a coisa sair meio desajeitada no começo. E contamos com a sua ajuda.

Minhas amigas falam em coro que só existem duas coisas piores do que um homem que não sinaliza se está gostando do boquete: quando vocês empurram a nossa cabeça em direção ao pinto e quando insistem para que a nossa boca dê um jeito naquele ser inanimado e murcho.

Sim, tem mulher que não gosta. Mas forçar a barra só vai deixá-la constrangida para o que realmente interessa. Sim, não é justo que você passe um tempão lá se lambuzando e ela, nada. Mas se a história vale a pena, só o tempo, carinho e confiança para que a parceira fique à vontade e descubra as sete maravilhas de chupar um pinto. E quando sobra vontade nem a falta de técnica atrapalha.

Dito isso, outro potencializador de sexo frustrado é você querer transar sem vontade e insistir que a mulher o deixe no ponto com um boquete. Ela pode até tomar a iniciativa, mas a decisão para isso deve ficar com ela. Mesmo as garotas que gostam da brincadeira – e pode ter certeza que muitas gostam – desanimam com aquela imagem tímida e chocha à sua frente. Mulheres se excitam com um homem pelado, acham o pinto bonito, desde que esteja duro, brilhante e bem disposto.

Quando se conhece alguém tudo é novidade. Do mesmo jeito que a gente não sabe se você gosta mais de transar de manhã ou à noite, é quase impossível saber como você prefere o sexo oral. Existe uma infinidade de possibilidades. Pego com força ou de levinho, ou nem ponho a mão? Lambo, chupo ou faço sucção? Aperto seus testículos ou só faço um agrado? Mais rápido ou devagar?

A gente vai no instinto, e ele pode nos levar ao caminho errado. Você fica frustrado e sua parceira se acha incapaz. O índice de acertos será infinitamente maior se você fizer apenas uma coisa: falar. Diga do que gosta, o que prefere, diga que está gostoso, que está incrível. É estimulante saber que todo mundo está se divertindo.

E calma lá com a euforia. Não vale explodir de felicidade na boca alheia sem aviso ou acordo prévio. Algumas – certíssimas – se preocupam com DSTs, outras vão ficar constrangidas sem saber se cospem ou engolem. O combinado não é caro, e vale pra tudo na vida.

Simone e Sartre

Posted in Comportamento, Relacionamento, Romance with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 1, 2014 by Psiquê

Este post foi inspirado no excelente texto de Amanda Maciel Antunes para o site Obvious sobre o casal mais interessante e brilhante da literatura, Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Simone é conhecida por suas contribuições para a difusão dos valores feministas no mundo, tem várias obras neste tema, mas a matéria de Amanda traz um novo olhar sobre o tema, que foge um pouco ao viés romanceado que permeia muito do que é dito sobre o casal. Porém, muito mais coerente com a bandeira que ambos levantaram ao longo da vida.  

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 Uma história de vida fascinante e enlouquecida. Mentes brilhantes explorando o jogo dos sexos, confrontando a mentalidade hipócrita dos mortais e a oposição entre masculino e feminino.

 

“Encontrar um marido é uma arte; Manter é um trabalho.” Simone de Beauvoir

“Ambos foram umas das mentes mais brilhantes que já existiram. Com inúmeros livros e sabedorias que nos ensinam até hoje. Ela, sua companheira ao longo da vida, pioneira do feminismo. Ele, um mito filosófico, um verdadeiro gênio.

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir foram, talvez, o casal mais influente do século 20. Eles nunca se casaram, mas juraram devoção mútua um ao outro com total liberdade, uma tentativa de derrubar a hipocrisia sufocante que, por tanto tempo, tinha ditado a vida das pessoas. Sempre empurrando novas fronteiras, eles exploraram os seus pensamentos em romances, peças de teatro e obras filosóficas. Ele ganhou o maior prêmio literário do mundo, o Prêmio Nobel. No entanto, ele se recusou a aceitá-lo porque pensou que faria dele uma figura estabelecida e, portanto, silenciar sua mente inquiridora.

Suas vidas privadas eram totalmente experimentais. Simone de Beauvoir teve casos com homens e mulheres, enquanto Sartre, apesar de sua estatura atrofiada e vesgo, sempre foi cercado por musas adoradores, felizes por cuidar de seu gênio. Quando morreu, em 1980, mais de cinquenta mil pessoas saíram às ruas de Paris. Mas isso não foi o fim da história. Sua influência continua até hoje, nos livros e sabedoria duradoura.

Por outro lado, de Beauvoir se tornou uma figura emblemática do feminismo e da luta pela igualdade entre os sexos. Ela pregava seu ideal de independência feminista e da igualdade, evitando tais ‘burgueses’ conceitos como casamento e filhos, e reivindicando que as mulheres devem se comportar exatamente como os homens, a verdade é que tal estilo de vida a deixou amargamente infeliz e ela tornou-se obsessivamente ciumenta de incontáveis ​conquistas de Sartre.

Não pensem que escrevo este artigo a favor do estilo de vida, um assunto a parte. Apenas observo uma história de vida fascinante e enlouquecida. Mentes brilhantes explorando o jogo dos sexos, confrontando a mentalidade hipócrita dos mortais e a oposição entre masculino e feminino.

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir se conheceram como estudantes em Paris, em 1929. Simone havia decidido se formar professora do ensino médio, uma posição apenas para as mulheres. Ela foi uma das primeiras mulheres a fazer os exames na Universidade Sorbonne de Paris. Sartre, três anos mais velho e impulsionado por um ódio de seu padrasto, era um ladrão e um adolescente rebelde, até que ele percebeu que os seus resultados escolares brilhantes o tornaram um ímã para as mulheres. Na Sorbonne, Sartre gostava de chocar seus colegas. Em um baile, ele apareceu nu, em outras ocasiões, ele desfilou uma prostituta em um vestido vermelho. Mas quando conheceu a bela e jovem Simone estava em transe. Ela era tão inteligente quanto qualquer homem e, também desencantado com sua família burguesa, ela compartilhou o seu fascínio com o submundo de Paris. No último teste da universidade, em que ele passou em primeiro lugar, e ela em segundo lugar, Sartre propôs casamento. Simone se recusou, não por qualquer razão filosófica, mas porque ela estava dormindo com um de seus melhores amigos. E assim, em 1 de outubro de 1929, Sartre sugeriu seu pacto: eles teriam um amor permanente “essencial”. Eles juraram fidelidade um ao outro, mas teriam casos, um relacionamento aberto.

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Até que durante a Segunda Guerra Mundial, quando Sartre foi chamado e seus jogos de sexo continuaram através de cartas, deixada para trás em Paris, Simone continuou a seduzir homens e mulheres, escrevendo as descrições excitantes de suas atividades para Sartre, que revelam sua crueldade e a vulnerabilidade de suas conquistas. Quando ele finalmente voltou a Paris, ele a ignorou completamente e foi morar com sua mãe. Simone jogou-se no trabalho e, depois de uma visita pela América em 1947, escreveu seu livro mais importante, O Segundo Sexo.

Os americanos não gostavam dela beber, zombavam de suas roupas e eles perceberam que ela não gostava das faces insípidas de mulheres americanas que faziam de tudo para agradar seus homens. Porém, a mulher americana que ela realmente não gostava era, naturalmente, a sua rival: Dolores Vanetti. E foi para se vingar de Dolores e Sartre que ela caiu na cama com o escritor Nelson Algren Chicago. Os dois tinham muito em comum. Algren era um boêmio, um rebelde, um esquerdista e bebia tanto quanto Simone. Quando Simone descobriu a união de Sartre e Dolores, atordoada pela sua rejeição, se deixou levar por Algren. Ela tinha 39 anos, sem um amante durante muitos meses, e agora, pela primeira vez em sua vida, ela se apaixonou. Algren lhe comprou um anel de prata barata que ela usaria pelo resto de sua vida. Mas ele não estava preparado para a fidelidade de Simone a Sartre. Embora tenha professado em muitas cartas que ela o amava apaixonadamente, ela não deixaria Jean-Paul. Simone e Sartre continuaram a se comunicar por cartas, encontros, escapadas. Eles nunca se abandonaram. Mesmo ambos tendo relações sólidas e passageiras, a amizade e a admiração pela mente os uniam.

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“Eu sou muito gulosa”, escreveu ela. “Eu quero tudo da vida, eu quero ser uma mulher e ser homem.”

Após sua morte, Sartre foi deixado sozinho com Simone no hospital, e ela se se deitou sob o lençol para passar uma última noite com ele. Foi então que ela escreveu o seu epitáfio para o túmulo niilista que acabaria por partilhar, desolada – “Sua morte nos separa, minha morte não nos reunirá”.

Finalmente, ela seguiu seu próprio caminho, mas em seu coração, sabia que seguia sozinha apenas por ter vivido além dele.”

Autoria: Amanda Maciel Antunes – Uma estrangeira em terra de estrangeiros. Contadora de histórias. Artista. Figurinista. E cheia de vida. De esperança. De um monte de bobagens também.

 

Eros e Psiquê

Posted in Curiosidades, Relacionamento, Romance with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , on julho 28, 2014 by Psiquê

Hoje este blog ganhou uma nova face, depois de longos anos, encontrei uma personagem linda que reflete parte do encantamento feminino que sempre busquei retratar aqui. Psiquê é quem escreve e compartilha seus sonhos, ideias e desejos com vocês. Claro que os mitos servem para encantar nossas vidas em termos figurado, mas a nosso modo, vamos discutindo o mundo feminino desde suas origens até os dias de hoje com todas as mudanças que a vida nos proporciona.

A história de Eros e Psique, contada por Adília Belotti

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(…) Há muito, muito tempo, quando os deuses ainda viviam entre os homens, havia na Grécia um rei que tinha três filhas. Todas belíssimas, todas em idade de casar. (Por favor, recordem-se, casar naqueles tempos era o mais importante ritual de passagem, e não só para as mulheres)…

Falei que as filhas do rei eram belas, mas a mais nova delas, Psiquê, era mais do que bela. As palavras humanas não davam conta de descrever seus encantos e os milhares de pretendentes que chegavam ao reino, atraídos pela fama das irmãs, sentiam-se indignos diante dela e sequer ousavam pedi-la em casamento. O reino fervilhava, gente de todos os outros reinos vinham em romarias e se deixavam ficar pela cidade, apenas esperando ver a jovem princesa passar; músicas e poemas eram escritos em sua homenagem, mas Psiquê, no alto do castelo de seu pai, continuava solitária: nenhum homem podia se apaixonar por uma mulher bela como uma deusa…

A fúria de Afrodite
E como os deuses não costumam tolerar os arroubos divinos dos humanos… Afrodite estava mais do que furiosa! Como ousava uma mortal ser mais bela do que a própria Deusa da Beleza? “Vê, Grande Mãe da Natureza, origem de todos os elementos, observa como tu, que és a alma de todo o universo, estás dividindo as honras da majestade com uma simples mortal e como teu nome está sendo profanado pelos humanos!”, resmungava a deusa para si mesma.

Chamou seu filho – quem senão Eros – o Deus do Amor e mandou, como só mandam as mães: Psiquê deveria se apaixonar perdidamente pelo mais horrendo dos homens. E mal disse, partiu, deixando o filho com a imagem da princesa. Partiu Afrodite, solene, para o mar, onde nascera, e que se abria encantado a cada vez que a deusa tocava os pés nas brancas espumas…

O destino de Psiquê
Enquanto isso, desesperado com a situação da filha mais nova, o rei havia decidido buscar os conselhos do oráculo do deus Apolo: “Vista a princesa de luto, leve-a à mais alta rocha à beira do mar. Lá, uma serpente alada virá buscá-la e a transformará em sua esposa!”. Terrível profecia! Mas como os gregos não costumavam discutir os conselhos dos deuses, a bela Psiquê foi levada em cortejo pelas ruas para cumprir seu destino, em meio às lágrimas e à tristeza de todos.
Mas qual seria o destino de Psiquê? Sem querer – ops, como pode uma deusa fazer algo sem querer? – Afrodite não tinha apenas alterado o futuro de sua rival. Sozinho com a imagem da jovem, Eros havia se apaixonado, irremediavelmente…
Uma pausa, só para perguntar se você reconhece por detrás do cenário os temas universais que tornam esta história fascinante ainda hoje?
Mas espere só para ver… é claro que será Eros em forma de “monstro alado” que vai resgatar Psiquê acorrentada no alto do rochedo. É ele que vai tornar-se seu esposo, com uma única condição: a princesa jamais poderia ver o rosto do marido! Parece fácil, não é? Mas todas as mulheres que um dia tentaram manter casamentos ou relações à custa de varrer para baixo do tapete os aspectos sombrios do parceiro ou da relação sabem que esta é realmente uma tarefa impossível.

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Curiosidade e revelação
E foi impossível mesmo para Psiquê. Embora feliz como um gato (parênteses: quer dizer, vivendo como uma rainha, rodeada de todo luxo de que precisava e com um marido amoroso que só via à noite e no escuro…) algo a incomodava. Um dia, alimentada pelas suspeitas das irmãs invejosas de sua riqueza, ela decide descobrir com quem estava realmente casada. Aproximou-se do marido e, pela primeira vez ousou olhar. E, imediatamente, apaixonou-se pelo Deus do Amor… Psiquê, aflitíssima, queria voltar atrás, fingir que nada havia acontecido, continuar sua vidinha, mas não era mais possível. A cera da lâmpada escorreu e pingou no rosto do deus adormecido…
E lá está a pobre Psiquê em prantos… Eros, indignado, vai embora sem ouvir as desculpas nem ligar para as lágrimas da esposa. E, de certa forma, é neste momento que a história começa de verdade. Porque, para recuperar o amor e a confiança do marido, Psiquê precisa percorrer um longuíssimo caminho.

A longa viagem da alma
Em grego, Psiquê significa “alma”. No momento em que conhece o esposo, a jovem se transforma em mulher, apaixona-se e precisa sair em busca de si mesmo. A história de Psiquê foi usada pelos estudiosos como analogia para a história do desenvolvimento da alma. E não são fáceis estes movimentos da alma. Assim como a jornada de Psiquê, o caminho do autoconhecimento e do amor verdadeiro é cheio de perigos, cheio de armadilhas. Nenhum herói se faz sem provar sua coragem e sua competência. Psiquê é uma história de heróis, feminina…
Quando parte em busca do amado, Psiquê está absolutamente só… mas grávida (talvez porque as mulheres, quando decidem percorrer seu caminho feminino, nunca estejam de fato sós; talvez porque toda decisão de mudança faça germinar uma semente de possibilidades). Mesmo assim, nem os outros deuses se atrevem a ajudá-la. Finalmente, é levada até a própria Afrodite que, como não poderia deixar de ser, uma vez que este é um legítimo conto de fadas, impõe à moça várias tarefas, para testá-la ou para destruí-la. As tarefas de Psiquê
Seu primeiro trabalho é separar um gigantesco monte de grãos variados em pilhas organizadas. E como não podia pedir ajuda aos deuses, Psiquê chama pelas pequenas criaturas da terra e as formigas vêm em seu auxílio. Depois desta, Afrodite manda a nora trazer a penugem de ouro que cobria a pele de uns carneiros ferozes que vagavam pelos campos. Mais uma vez, quem salva a moça é uma criatura da terra, um junco que lhe dá bons conselhos: “seja paciente, menina, aguarde o momento certo. Quando cair a noite, os ferozes carneiros não vão parecer tão ferozes, nem tão ameaçadores para quem traz em si a semente do feminino”…
Para completar a terceira tarefa, Psiquê deve trazer a água da fonte que alimenta os rios infernais, no cume de um rochedo. Desta vez, quem vem ajudar a jovem é a águia de Zeus, a pedido de Eros, que começava a sentir saudades da esposa. Afrodite dá ainda à moça uma última tarefa. A mais difícil. E se você – que está lendo – é mulher, vai concordar… Psiquê deve descer até as profundezas do mundo subterrâneo e pedir o creme de beleza de Perséfone, a rainha do Hades. Quando a moça já vem vindo de volta, quase chegando, quase vitoriosa, não resiste e abre a caixinha, na esperança de passar na pele um pouquinho só do creme mágico e tornar-se mais bela… para Eros. E no mesmo instante, é envolvida pelo sono da morte! Não, nem adianta se impacientar com a vaidade da moça.

Vaidade e “fracasso”
Erich Neumann, que conta a história no belo livro Eros e Psiquê, comenta: no momento em que escolhe o fracasso de forma tão paradoxal, Psiquê realiza seu destino feminino (lembram que eu falei que esta é uma aventura, com heróis e tudo, mas heróis femininos…). E obtém o perdão de Afrodite, que reconhece na moça que desiste de tudo por amor um pouco de si mesma.

E é um Eros que não tem mais nada do menino ferido, que busca abrigo nas pregas da saia da mãe, quem vai acordar Psiquê. Ele devolve o sono à caixinha, toca a mulher com a ponta de suas asas e diz a ela para ir cumprir sua tarefa até o final, sem medo… É ele que vai ao Olimpo solicitar a benção dos deuses para o casamento. E é ele que pede a Hermes, o deus-guia, que conduza Psiquê à sua nova e eterna morada.

Final feliz e recomeços
A história acaba como devem acabar todas as histórias: os deuses comemoram as núpcias de Psiquê e Eros com um grande banquete. Zeus oferece à jovem o néctar da imortalidade. Afrodite, a Grande-Mãe, ora terrível, ora bela, apaziguada, recebe sua nora. E juntas celebram o mistério do nascimento e do renascimento, quando Psiquê dá à luz uma menina, Volúpia… que vai ser chamada também, Deleite ou Bem-aventurança. Expressão mais do que feminina da união entre o humano e o divino…

Que blog!

Posted in Curiosidades with tags , , , , , , , , , , , , , , on maio 9, 2014 by Psiquê

Witch

Hoje, por caso, descobri o blog Biscate Social Club

…sua leitura requer um pouco de maturidade para os mais preconceituosos e travados, mas eu confesso que adorei o blog, estou encantada com a qualidade das discussões e a forma como tabus – que permeiam nosso cotidiano, nesta sociedade para lá de preconceituosa e travada – são tratados pelas autoras do blog e seus convidados.

Pela descrição já dá uma imensa vontade de navegar pelo página:

Página do clube das mulheres livres para fazerem o que bem entenderem, com quem e onde bem quiserem.

Missão

Um tantinho de felicidade por dia…

Descrição

Biscate é quem sabe que um homem (ou mulher) inteligente nunca pensaria em uma mulher como parte de uma coleção. Biscate sabe que não precisa ser sempre maravilhosa. E que se maravilha com as possibilidades que aceitar as próprias limitações traz.Biscate é a mulher que sabe que ao lado do homem ou de outra mulher é só mais uma posição, como em baixo, em cima… e longe.

Informação Geral

Biscate é uma mulher livre para fazer o que bem entender, com quem escolher e onde bem quiser. Esse é o nosso clube.

As estátuas cegas

Posted in Comportamento, Cultura e Arte with tags , , , , , on fevereiro 20, 2014 by Psiquê

Incrível como o Homem Despedaçado conseguiu escrever algo com quem me identifiquei tanto. Não paramos para pensar nessas percepções. Compartilho com vocês um pouquinho desta rica reflexão…

O Homem Despedaçado

No centro da sala, o casal dança. A atenção de um se prende aos olhos do outro. Realizam um passo, e a moça parece se afastar, mas o homem a segura e a atrai para si, como um planeta puxa a sua lua. Os movimentos se adivinham diáfanos, apesar da dureza improvável do mármore. Mesmo paralisados, os pés se movem de forma impossível. O Tempo parou ao redor do casal; não existe mais nada, só o passo de dança.

E ninguém sabe disto, pois a plateia que os acompanha está completamente cega.

"A dança de Zéfiro e Flora", de Giovanni Maria Benzoni “A dança de Zéfiro e Flora”, de Giovanni Maria Benzoni

Muitos e muitos anos atrás, fui a um espetáculo de teatro prestigiar uma amiga. Cheguei atrasado e, para não atrapalhar os atores e o público, esgueirei-me pela porta e me sentei na última cadeira da última fila, longe de todos. A peça transcorria, alguns minutos já tinham passado…

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Sexo e relacionamento

Posted in Erotismo, Relacionamento, Sexo with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on novembro 23, 2013 by Psiquê

Li o texto do Fábio Rodrigues no blog Papo de Homem, intitulado Sexo não é tão essencial para um relacionamento e achei bem interessante a forma como ao tema é abordado.

O que mais gostei foi a parte do texto que fala sobre o sexo sem sexo: “É possível comer uma mulher sem tocá-la. Transar é só o jeito mais grosseiro e desesperado de exercer penetração, alcance e acolhida. Tem outros jeitos para se fazer a mesma coisa. E ela vai mostrar todos os sintomas de estar sendo comida: vai ter brilho no olho, ficar soltinha, se sentir segura, feliz, satisfeita, se deixar conduzir, enfim, o pacote completo. E o homem, da mesma forma, vai se sentir realizado, estável, confiante.”

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Leia na íntegra o texto abaixo:

Estamos habituados a pensar e sentir que um relacionamento é bom quando tem paixão, sexo, intensidade, e que não é bom quando não tem essas coisas.

Claro, não é um problema existir paixão, sexo e intensidade. É excelente. O problema é acreditar que isso seja a melhor base para o relacionamento, o melhor critério de qualidade, que sem isso algo esteja errado.

Não há como sustentar o jogo sexual por muito tempo (e nem é preciso). Se apostarmos nisso e o tomarmos como referencial, quando ele flutuar – e ele vai flutuar – vamos dizer que a relação entrou em crise, perdeu qualidade. Ora, quem disse que esfriar é algo negativo?

Diante da ausência desse calor, normalmente ficamos aflitos e 1) tentamos recuperar a intensidade, “apimentar a relação” (o que obviamente não dura), 2) acabamos a relação e procuramos outra que tenha “química” (para repetirmos o problema mais tarde), 3) tentamos estabelecer outra base para a relação, que não tenha sexo e paixão como eixo principal.

“O antídoto para a apatia não é “manter o fogo”, prolongar a paixão inicial, “apimentar a relação”. Focar no próprio relacionamento, usar a criatividade, explorar fantasias, viajar junto; tudo isso funciona, claro, mas não dá para manter tal frescor por muito tempo. O antídoto para apatia em um casal encontra-se na vida dele e na vida dela, não tanto no próprio casal. Está mais no “Eu” e menos no “Nós”.

Se ele se movimenta de modo positivo, se tem brilho nos olhos, se enriquece a vida dos outros, se anda no mundo com uma visão ampla. Se ela está sempre em desenvolvimento, cada vez mais inteligente, radiante e livre, se dança pelo mundo, se também tem brilho nos olhos e sentido na vida. É isso o que livra o casal da apatia: a energia que eles movimentam por si só, sem o apoio do outro. É essa a energia que eles trazem para a relação, que se multiplica quando vira “Nós”.”

Gustavo Gitti

A verdadeira base do sexo

Não é necessariamente um problema haver pouco sexo entre um casal. O problema é não haver essa energia dinâmica que dá vida pra relação – e que por um tempo brotou por meio do jogo da paixão e do sexo.

Há um nível sutil de sofrimento no esforço pra sustentar esse jogo rolando, mesmo enquanto o relacionamento é tido como bom, com sexo de qualidade e tudo mais. O fogo exige uma manutenção constante. Na verdade, já sofremos só de imaginar a paixão flutuando, e vamos sofrer muito mais quando ela oscilar de fato – tudo na exata medida em que alimentamos esperança e expectativa de que a experiência que temos no relacionamento se sustente.

Acredito que as coisas tendem a funcionar melhor pra um casal (e o sexo pode ter melhor qualidade) quando o homem assume o papel daquele que busca, que alcança, e a mulher assume o papel daquela que tem que ser buscada, alcançada, percorrida, dominada, segurada, penetrada. A qualidade do jogo, então, depende da maestria que os dois têm em brincar, cada um no seu papel. No nosso caso, do quanto conseguimos ser bons caçadores, buscadores, do quanto conseguimos oferecer acolhimento, firmeza, chão e penetração.

Porque quem está fugindo não quer ser pego, e quem quer pegar na verdade não quer pegar – o que se quer é que o jogo e o movimento sejam mantidos. É daí quem vem o tesão, o brilho, a vivacidade – do jogo, do movimento, da dança. Penso que esta seja a verdadeira base do sexo, e que ela pode ser ativada e alimentada mesmo sem atividade sexual.

Resolver o jogo implica em monotonia e falta de movimento; manter o jogo supõe seguir o movimento. Eu diria ainda mais: esse movimento supõe algum nível de liberdade, que por sua vez supõe algum nível de insegurança e medo. Ou seja, a própria coisa que desejamos banir das relações é o que cria a tensão que as mantém. A liberdade, o medo e a insegurança são a eletricidade que gera o magnetismo.

“Todo amor luta para enterrar as fontes de sua precariedade e incerteza, mas, se obtém êxito, logo começa a enfraquecer – e definhar.”
–Zygmunt Bauman

Sexo sem sexo

É possível comer uma mulher sem tocá-la. Transar é só o jeito mais grosseiro e desesperado de exercer penetração, alcance e acolhida. Tem outros jeitos para se fazer a mesma coisa. E ela vai mostrar todos os sintomas de estar sendo comida: vai ter brilho no olho, ficar soltinha, se sentir segura, feliz, satisfeita, se deixar conduzir, enfim, o pacote completo. E o homem, da mesma forma, vai se sentir realizado, estável, confiante.

Com uma carinha de felicidade como essa, a penetração pode ser a última das importâncias

Quando o casal percebe essas coisas, uma nova base já está estabelecida. E esta base já é bem menos flutuante e estreita do que a primeira. Aí há chances de que a intensidade reapareça de outras formas, sem depender tanto do sexo em si. Eventualmente até mesmo sem precisar de uma relação amorosa.

É possível (ainda que bem raro) que os dois entendam essa dinâmica toda e trabalhem lado a lado pra diminuir o potencial que têm pra sofrer quando a sustentação desse e de qualquer outro jogo flutuar.

Agora, curiosamente, esse processo parece fazer com que a pessoa se torne mais brilhante e atrativa, inclusive sexualmente.

Relacionamentos amorosos também não são tão essenciais assim

É um problema colocar os relacionamentos no centro da nossa vida, como se todas as possibilidades de movimento que temos dependessem desse eixo, exclusivamente.

Não quero, com isso, dizer que os relacionamentos não mereçam nossa atenção, que eles não sejam valorosos e possam nos ajudar a construir vidas boas e saudáveis. Mas o ponto é que eles podem fazer isso, só podem, como muitas outras coisas podem.

Penso que uma maneira mais verdadeira pra dar ânimo no relacionamento, pra fazê-lo ter um sentido natural, fluido, é nós mesmos encontrarmos um sentido em nossas vidas. Isso pode ser feito de forma independente um do outro. Independentes, mas ainda assim juntos, apoiando-se mutuamente.

De onde vem o tesão?

Particularmente eu entendo que uma das coisas (talvez a principal) que torna a pessoa desejável é a medida que ela nos é inalcançável.

Em “Sin City”, Marv vê em uma prostituta, a sua deusa inalcançável

Por um lado, nós desejamos a pessoa porque há uma dimensão nela que não entendemos bem, que nos escapa – um nível de liberdade e mistério que até mesmo nos assusta um pouco. Essa dimensão é o que nos atrai, nos incita e nos move em sua direção. É como se houvesse uma vontade de entender e dominar aquilo, de resolver a questão, de subjugar, descobrir, atravessar e desnudar o outro.

Por outro lado, para a pessoa que tem sua medida de inalcançabilidade surge também excitação quando ela tem a perspectiva de ser alcançada, descoberta, desnudada. A excitação sexual viria do “cair das máscaras”, de descobrir e alcançar ou de ser descoberto e atravessado, mesmo que apenas de forma momentânea e condescendente. As duas coisas acontecem juntas.

Isso parece explicar o motivo porque existe excitação sexual com coisas como tapa na cara, fantasias de  dominação e submissão, bondage etc. Já viram casos no quais a mulher é fodona na vida, chefe, autoritária, brava, e na cama gosta de ser submissa? Então, o tesão vem de ser alcançada, descoberta, desprovida de sua encenação, de afrouxar a tensão criada pela encenação dos papéis cotidianos.

Tais posições, de quem busca e de quem é buscado, são assumidas pelos dois ao mesmo tempo e em alguma medida, bem como podem ser encenados com maior predominância por um ou por outro de forma alternada, ou ainda ser encenado por uma das pessoas pela vida inteira. E os dois podem estar conscientes disso ou não.

Eis porque é comum surgir esse problema de falta de tesão no casamento. Os dois se conhecem demais. Sabem tudo um do outro. Já sabem e adivinham cada movimento, cada pensamento. As dimensões de inalcançabilidade ficam mínimas, quase inexistentes. Aí não há incitação, desafio, vontade de dominar, assegurar, descobrir, abarcar, atravessar.

A solução pra isso então seria fazer ressurgir algum nível de tensão no relacionamento. Se temos tesão pela vida, se nos movemos mais livremente, se nossa presença ativa a dimensão de espanto e incerteza que já existe o tempo todo, criamos causas e condições para que o jogo se estabeleça mais facilmente e de modo mais lúdico. Essa dinâmica então é percebida pelo parceiro ou parceira, mesmo que indiretamente, e eis que a dança pode começar.

Buscar o autoconhecimento…

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on abril 23, 2013 by Psiquê

Autoconhecimento

A matéria do portal Uol: Investir no autoconhecimento é abrir as portas para a evolução pessoal pareceu de grande valia para pensarmos um pouco sobre a busca do autoconhecimento que tanto me atrai e julgo necessária a todos os seres humanos. O texto é assinado por Rosana Faria de Freitas e traz dicas superlegais para pensarmos um pouco. Claro que cada um vai buscar seu próprio caminho, na meditação, na dança, na ioga, na natação, na terapia, uma leitura, uma viagem, um curso, mas existem ações combinadas que podem ajudar muito. Eu venho experimentando canais diversos, para buscar me conhecer melhor. Leia a matéria que compartilho abaixo e tente identificar o que mais funciona para você. No link acima, você também encontra um teste com 25 perguntas que vale a pena responder.

“Os tempos modernos trouxeram alguns termos para a ordem do dia, como qualidade de vida, sustentabilidade e autoconhecimento. Esta última palavrinha reflete a intenção do homem de buscar, no seu interior, respostas e entendimentos para várias questões de si mesmo e da vida – e, dessa forma, evoluir.

O processo é mais do que válido, na opinião de médicos e terapeutas. “Quem conhece a si mesmo tende a valorizar mais a própria vida e fortalecer sua autoestima. Consequentemente, fica mais confiante e estável emocionalmente”, acredita Juliana Bento, psicóloga da Clínica de Especialidades Integrada, em São Paulo. O crescimento pessoal permite, ainda, que se tenha mais consciência em relação às vivências e, nesse aspecto, a pessoa se frustra menos e se torna pouco vulnerável e sujeita a manipulações.

Mas, atenção: é preciso buscar conhecer não apenas nossas qualidades, para que possamos valorizá-las e desenvolvê-las, como também nossos defeitos. Assim, será possível avaliar o que incomoda e precisa ser alterado ou transformado.

“É essencial encarar limitações, medos, inseguranças. Saber a respeito de si mesmo ajuda a superar dificuldades. E, mais que isso, favorece a tomada de decisões, sejam afetivas, profissionais ou até de questões simples como planejar uma viagem, decidir o que fazer no fim de semana, que livro ler”, salienta Cynthia Boscovich, psicóloga clínica e psicanalista.

O mundo de hoje, ela explica, requer que façamos escolhas o tempo todo e muito rapidamente. A própria globalização e a forma como as mudanças ocorrem leva a isso. “Quem não está preparado, sofre com ansiedade, angústia e até depressão.”

Coragem bem-vinda

É fato: se você se conhece, tem maior controle sobre suas ações e emoções. O resultado disso é mais equilíbrio e tranquilidade no cotidiano, o que traz benefícios em todos os sentidos – na vida pessoal e profissional, no convívio em sociedade. Mas investir no autoconhecimento exige disponibilidade para enfrentar tal processo, o que nem sempre é fácil.

“Às vezes, é penoso descobrir suas fraquezas, superar seus medos, desvendar seus defeitos. Aceitar o que é mais íntimo e, propositalmente, está ali esquecido, escondido”, reflete Marcella de Carvalho Almeida, com especialização em psicologia clínica e hospitalar, que atende profissionais de saúde do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital do Servidor Público, também em São Paulo.

Juliana Bento concorda. “O caminho para a busca interior tem seu início no estudo da experiência humana e na ânsia por conhecimento. Essa ‘pesquisa’, no entanto, deve ser feita sem preconceitos ou limitações. É preciso abrir os olhos para se enxergar, reconhecer o que gosta e não gosta, e o que pretende mudar ou desenvolver em si próprio.”

O QUE O AUTOCONHECIMENTO TRAZ

  • Controle sobre as emoções. A pessoa entende o que está sentindo, por que teve aquela reação, o que tal comportamento lhe trará de resultados
  • Segurança. “A partir do momento em que compreendo a mim mesmo, sinto-me mais seguro diante de qualquer situação”, diz Juliana Bento
  • Independência. O indivíduo que reconhece suas habilidades e fraquezas sabe se defender melhor. E, em algumas situações, fica imune à opinião alheia e não se deixa manipular. “Como consequência, frustra-se menos e não depende da aprovação do outro para tomar decisões”, reforça Bento. Insegurança, perfeccionismo e competitividade, na opinião da psicóloga, estão relacionados à distância de si mesmo. “Quem tem dificuldade para identificar suas qualidades, vacila antes de escolher que caminho trilhar, não se acha capaz de realizar tarefas complexas e prioriza a aprovação das pessoas em tudo o que faz”
  • Possibilidade de fazer boas escolhas. Quem se conhece profundamente e controla seus sentimentos e suas atitudes, tem competência para realizar grandes conquistas
  • Autoestima. Da mesma forma que admite seus pontos negativos, quem investe no autoconhecimento também se conscientiza do que carrega de positivo
  • Tolerância e consideração às diferenças. A autoanálise leva à compreensão da diversidade e pluralidade humana – e, dessa forma, o indivíduo se torna mais condescendente em relação a amigos, familiares, colegas de trabalho. “Certamente, a pessoa adquire uma visão mais abrangente e generosa do mundo”, diz Marcella de Carvalho Almeida
  • Respeito aos próprios limites. Fica mais fácil saber até onde ir, acreditando em sua capacidade sem ultrapassar o que lhe é inaceitável em um relacionamento, por exemplo. “O sujeito se sente menos frágil e mais forte para lidar com suas particularidades”, diz Almeida
  • Postura positiva e otimismo. Sem dúvida, a autoconfiança vem a reboque do autoconhecimento. E, se a pessoa está bem consigo mesma, demonstra isso para os outros e o mundo por meio de suas atitudes positivas, sua satisfação própria, seu bem-estar geral. “Há mais paz, serenidade e alegria”, diz Almeida
  • Predisposição para mudar e evoluir. Quem está disposto a se encarar com verdade tem mais chance de não desculpar os próprios erros, e sim aprender com eles. A partir daí, busca as razões do tropeço, tenta decifrar os sentimentos que estavam por trás dele, deixa que a dor ensine
  • Qualidade de vida. “Saber trabalhar defeitos e qualidades é uma vantagem, pois criamos uma barreira que nos afasta do que não nos faz bem. E, assim, conseguimos levar a vida com mais leveza e felicidade”, finaliza a psicóloga do Instituto do Coração

Veja, agora, dicas para chegar lá.

O QUE FAZER PARA SE CONHECER MELHOR

 

  • O autoconhecimento exige uma autoavaliação. Você precisa se voltar para si mesmo e perceber suas qualidades, seus defeitos, seus limites; o que o perturba, o que liga seu sinal de alerta, o que o deixa inseguro. Enfim, abrir as portas para fazer todas as perguntas possíveis e encarar todas as respostas
  • Caso sinta necessidade, vale recorrer a uma psicoterapia individual ou em grupo. “O processo analítico auxilia muito, pois permite perceber muito a respeito de si mesmo – o que talvez fosse mais demorado ou até impossível em uma tentativa solitária. A psicoterapia possibilita discutir as diversas situações da vida e relacioná-las à história pregressa de cada um, assim como planejar o futuro”, diz Cynthia Boscovich
  • Há diversos livros que facilitam abrir esse universo interno. Conversar com pessoas que, você acredita, estão no caminho certo, pode ser ótimo para obter dicas variadas, inclusive de que leituras priorizar
  • É possível fazer alguns exercícios para se ‘explorar’ melhor. “Pontuar suas características positivas, procurando desenvolvê-las, e também as negativas, para modificá-las, pode ser um bom começo”, sugere Juliana Bento
  • Integrar grupos de estudo focados no assunto também pode ser de grande valia. “Idem para iniciativas como meditação, ioga. Afinal, o autoconhecimento é fruto da introspecção”, considera Marcella de Carvalho Almeida
  • Qualquer experiência vivida pode ser enriquecedora e promover a autoanálise. Mas, para isso, é preciso estar com as antenas ligadas e receptivas. “Não importa o que a pessoa esteja fazendo: lendo um livro, praticando uma atividade física, encarando uma aventura radical: em toda situação, é possível crescer. Nas viagens, na paternidade e na maternidade, nos relacionamentos amorosos, frente a doenças, dores, angústias. Em resumo, em tudo que tiver relação com a vida”, atesta Cynthia Boscovich
  • Vale, ainda, se observar com verdade no dia a dia. Perceber sua atuação e seus sentimentos nas pequenas coisas, fuçando dentro de si mesmo e perscrutando cada detalhe de sua personalidade

Os problemas se resolvem…

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on maio 14, 2010 by Psiquê

 

Via Amante das Imagens

Ontem foi um dia especial! Dia 13 de maio, dia do aniversário de meu irmão e dia em que se homenageia Nossa Senhora de Fátima, meu calendário trazia a seguinte mensagem:

Os problemas se resolvem infalivelmente…

Os problemas sempre colocam o homem em situação ou ambiente diferente, e, de maneira diversa de até então, fortalecem a alma.  Os problemas existem para ser solucionados, e não há nenhum problema que não tenha solução. Não temos de temê-los. A vida é dinâmica e nos faz descortinar sempre uma nova faceta.

Do livro Preceitos da Luz – Masaharu Taniguchi

Essa mensagem me chamou a atenção, pois muitas vezes nos deixamos abater pelo problemas, dando a eles mais poder do que deveriam. Ao ter consciência de que eles não são maiores do que nós, acabamos agindo com mais convicção e segurança diante deles, resolvendo-os com mais destreza e tranquilidade.