Arquivo para homens

Sororidade

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , on junho 29, 2016 by Psiquê

Em tempos em que as lutas pelos direitos das mulheres estão em alta, tristemente pela gritante violação destes direitos, uma discussão tem sido bastante recorrente: a questão da amizade e da união entre mulheres.

Desde pequenas ouvimos a falácia, e muitas vezes, acreditamos nela, de que as mulheres estão sempre competindo entre si e invejando umas as outras. Por algumas vezes, reforçamos esse discurso reproduzindo atitudes de competição e intolerância para com nossas companheiras de trabalho, de curso, etc. Mas o fato é que na verdade isso tudo é um mito construído para reforçar uma prática que naturalmente não seria assim. Há muita solidariedade e empatia entre as mulheres em suas lutas diárias.

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Compartilho mais um texto bem legal sobre o tema, publicado pela Revista Capitolina:

“Nenhum fator natural e biológico impede as mulheres de serem amigas, se amarem e de criarem laços, mas quando passamos a vida inteira ouvindo e acreditando nisso criamos esse obstáculos nas nossas relações. Desde pequenas, fomos ensinadas que as mulheres não podem ser gentis umas com as outras, que devemos sempre competir e que as mulheres são interesseiras, invejosas e falsas. O que não passa de um monte de mentiras.

Esse discurso da rivalidade feminina é passado para nós como se fosse uma condição intrínseca às mulheres e é algo tão enraizado, que muitas vezes não notamos. Isso não passa de um mito em que somos ensinadas a achar que não temos motivos para nos unirmos e que, mesmo se quisermos, não seria possível, já que, somos mulheres e apenas os homens são capazes de criar laços verdadeiros.

As mulheres, só por nascerem, já têm menos direitos, menos liberdade e mais deveres do que os homens. E pensar que não conseguimos olhar para outra mulher que é desfavorecida socialmente – em menor ou maior grau a depender de outros recortes sociais – e sentir amor, amizade e companheirismo só ajuda a sociedade patriarcal a nos dividir e permanecer. Assim como qualquer pessoa, as mulheres experimentam todos os tipos de sentimentos, sejam eles bons ou ruins, de amor ou ódio. Vamos fazer um exercício: pense em alguém que estaria ao seu lado em um momento difícil de sua vida. Qual a possibilidade de ser uma mãe, uma irmã, uma amiga, uma mulher?

A probabilidade de uma mulher ser a pessoa que vai te apoiar, te entender e estar ao seu lado em um momento difícil é grande e tem relação com um conceito conhecido e bastante falado no mundo web e no movimento feminista , a sororidade.

S.O.R.O.R.I.D.A.D.E

A origem da palavra está no latim sóror (irmã), ou seja, um grupo de irmãs, irmandade. E significa a união e aliança entre mulheres na busca por uma sociedade mais igualitária.

Essa palavra meio difícil, bonita e representativa veio para quebrar uma das ideias mais fortes do patriarcado: a rivalidade entre mulheres. Essa ideia funciona praticamente como um escudo contra o verdadeiro opressor, que nos faz lutar uma contra as outras enquanto ele é que tem que ser destruído. Ela vem trazer a ideia de que juntas somos mais fortes.

A união entre as mulheres é a melhor saída para combater a sociedade patriarcal, o machismo e o sexismo. Quando deixarmos de lado o papel de competidoras e assumirmos o de mulheres que geração após geração sofrem com os mesmos rótulos, com as mesmas imposições e com os mesmos jogos, vamos conseguir finalmente respira melhor, sabendo que não importa o que aconteça, teremos sempre umas às outras.

Enfim, nós precisamos nos amar, nos unir contra esse machismo e essas imposições de padrões. Respeite as escolhas das outras, olhe para as mulheres como suas irmãs de luta e sempre entenda que não deve julgá-las pela seu corpo, orientação sexual e comportamento. A sociedade já nos subestima e subjuga diariamente, não devemos fazer isso umas às outras. E lembrem-se sempre, em um mundo onde somos ensinadas desde pequenas a competir entre nós e nos dedicarmos aos homens, amar outra mulher é um ato revolucionário.”

Luto pelo fim da cultura do estupro

Posted in Comportamento, Conscientização with tags , , , , , , , , , , , , , on maio 27, 2016 by Psiquê

Os últimos acontecimentos no país: o episódio de um estupro coletivo em 27 de maio de 2015, no estado do Piauí e o mais recente fato ocorrido em maio de 2016, quando uma menina de 16 anos foi desumanamente violentada por 30 monstros, chamam atenção para a urgência de combatermos a frequente tolerância para com o estupro e a violência contra a mulher em nossa sociedade.

Se você é mulher, certamente já parou para pensar na roupa que ia usar ou no trajeto que precisaria fazer e nas prevenções que precisaria tomar para evitar algum assédio ou investida na rua. Já temeu que algum homem no transporte coletivo encostasse em você, que em uma rua mais deserta, alguém te seguisse, que o comprimento de sua saia, o modelo do seu vestido ou o corte da sua blusa provocasse reações indesejadas no meio da rua. No Brasil, ser assediada na rua é muito frequente. Embora muitas dessas situações, sejam constantes e quase “inevitáveis” nas ruas do país, o medo é uma coisa que nos acompanha cotidianamente.

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É inacreditável que em pleno século XXI, as mulheres ainda precisem temer tanto por sua segurança. É inadmissível que muitas mulheres e homens em nossa sociedade continuem a culpar a vítima pelo ato de violência sofrido: seja pela vestimenta, pelas escolhas, pelas companhias, pelas atitudes. O respeito deve ser IMPERATIVO, ainda que uma mulher queira colocar uma roupa curta, sair para dançar, usar um batom vermelho, o que for, ela é livre e não pode ser atacada por ninguém. Se ela não quiser ter relações sexuais com quem quer que seja, não é lícito forçá-la, seja qual for a sua ideia em relação a ela.

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O estupro é sempre culpa e responsabilidade do estuprador. A violência é sempre culpa e responsabilidade daquele que violenta. Homens e mulheres são iguais em deveres e direitos perante a lei, e nada justifica qualquer ato de violência sobre uma mulher que queira andar com pouca roupa ou quiçá nua. Os discursos legitimadores de atos violentos na boca de mulheres é mais assustador ainda.

Se você tem acompanhado as discussões dos últimos dias, reflita e se una a todas nós no combate a essa cultura do estupro tão comum em nossa sociedade.

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Aproveito para compartilhar a contribuição de Marina Ferreira em sua página no Facebook que reflete e refuta muito bem o discurso de alguns sobre o comportamento ideal das mulheres “não estupráveis”.

“Se ela estivesse estudando isso não aconteceria!”
Menina estuprada em escola de São Paulo reconhece agressores: http://glo.bo/1TZ6Ej0

“Se ela estivesse na igreja isso não aconteceria!”
Jovem é estuprada dentro de secretaria de igreja em Brasília: http://bit.ly/1NQpoVc

“Se ela estivesse em casa isso não aconteceria!”
Morre jovem encontrada com sinais de estupro dentro de casa na Zona Norte: http://bit.ly/1qMl4Lu

“Se ela estivesse trabalhando isso não aconteceria!”
Jovem é atacada e estuprada a caminho do trabalho: http://bit.ly/1P19Wpq

“Se ela tivesse um namorado fixo isso não aconteceria!”
‘Meu namorado me estuprou por um ano enquanto eu dormia’: http://bbc.in/27UhJvG

“Se ela fosse mais família isso não aconteceria!”
Adolescente com deficiência física é estuprada pelo tio em RR: http://glo.bo/1THnB47

“Se ela fosse menos ‘puta’ isso não aconteceria!”
Menina (de 1 ano e meio) morta em igreja foi violentada: http://bit.ly/1Z3LEM4

“Se ela tivesse mais cuidado isso não aconteceria!”
Jovem é estuprada em estação do Metrô de São Paulo: http://bit.ly/1WnjCgw

#nãoéculpadela #nãoéculpadavítima #pelofimdaculturadoestupro #espartilho #feminismosim #queroumdiasemestupro

Representatividade

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , on maio 13, 2016 by Psiquê

Eu não pretendo aqui comentar o que está acontecendo no Brasil, porque envolve muitas decisões absurdas e indefensáveis. O foco deste texto é a montagem do Governo interino, que assumiu a gestão do país,  em 12 de maio de 2016, tendo empossado 24 Ministros de Estado, todos eles homens: sem qualquer representatividade para mulheres, negros, indígenas e outros grupos que compõem nossa diversidade.

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A Revista AzMina  fez uma matéria interessante sobre o tema. Este Governo retoma um passado um pouco distante, uma vez que desde a gestão de Ernesto Geisel (1974-79) é o primeiro que não nomeia nenhuma mulher dentre o seu quadro de Ministros.

Segundo o texto: O presidente interino que assumiu a liderança do Brasil em 12 de maior “será o primeiro presidente desde de Ernesto Geisel (1974-1979) a não incluir ninguém do sexo feminino no governo federal. Aqueles que acham que representatividade na composição do governo não importa, alegam que os nomes foram decididos com base em mérito e não em gênero. O que não percebem, no entanto, é o quanto esse argumento é machista: ele pressupõe que nenhuma mulher teria mérito ou competência à altura da vida política.

Nada poderia ser menos verdadeiro. E para provar isso, [o AzMina criou] uma lista de mulheres com capacidade e experiência mais que necessárias para dirigir ministérios no Brasil – muitas deles com bem mais competência que os homens nomeados em seu lugar. Não criamos essa lista considerando a sujeira da distribuição de cargos dentro do partido do novo presidente e aliados, mas na pura e simples competência para o cargo sugerido. São dez nomes, para provar que seria possível chegar ao menos perto do equilíbrio 50-50%, se a seleção deixasse de lado a troca de favores e o machismo.”

Os nomes escolhidos pelo site AzMina foram as listadas a seguir. O Espartilho não fez julgamento de valor em relação à competência das indicadas, mas se solidariza com o absurdo dessa falta de representatividade:

  1. Suzana Herculano-Houzel Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações: Essa sabe comunicar e entende horrores de ciência e tecnologia. Suzana tem seis livros publicados e já fez programa no Fantástico e teve coluna na Folha de São Paulo, tudo para tornar ciência e tecnologia assuntos mais acessíveis. É neurocientista e dirige o Laboratório de Neuroanatomia Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
  2. Soninha Guajajara Ministério do Meio Ambiente: Coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia é uma das principais vozes do movimento indígena nacional. E quem melhor que os indígenas brasileiros para defender nossas florestas? Integrante do povo Guajajara, do Maranhão, formou-se em letras e enfermagem e já representou indígenas brasileiros em vários eventos internacionais, como a Conferência do Clima em Paris, em 2015.  No mesmo ano, foi premiada com a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura;
  3. Cláudia Costin – Ministério da Educação e Cultura: Cláudia é mestre em economia e doutora em administração, professora universitária e gestora pública. Já foi, inclusive, ministra da Administração e Reforma no governo Fernando Henrique Cardoso, que é de partido aliado ao de Temer. Como educadora, passou por IBMEC, Fundação Armando Álvares Penteado, Fundação Getúlio Vargas e as universidades PUC-SP, Unicamp, Unitau e UnB;
  4. Sueli Carneiro – Ministério da Educação e Cultura: Sueli é doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e criadora de diversos programas culturais que promovem a igualdade racial e de classes. Além de ser a fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, já fez parte do Conselho Estadual da Condição Feminina e do Conselho Nacional da Condição Feminina, ambos cargos políticos;
  5. Chieko Aoki – Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão: Chieko é um monstro da economia e da gestão. Ela é fundadora e presidente da rede Blue Tree Hotels. Em dez anos, transformou a rede em uma das maiores cadeias hoteleiras do país e benchmark em excelência de serviços no setor – imagine o que ela não faria pelo país;
  6. Luiza Trajano – Ministério da Fazenda: Se o povo quer empregos e movimentação econômica, porque não entregar a máquina nacional nas mãos de uma empresária gabaritada como Luiza? À frente da Magazine Luiza, ela criou um império do varejo que mobiliou quase todas as casas do Brasil! Tem 36 milhões de clientes como presidente da companhia e, apesar do histórico familiar, soube conferir ao Grupo Magazine Luiza uma gestão de altíssimo nível e muito lucrativa;
  7. Benedita da Silva – Ministério das Cidades: Tem carreira política de sucesso e já foi governadora do Rio de Janeiro. É formada como auxiliar de enfermagem, e tem diploma universitário no curso de Serviço Social. Sua experiência gerindo o Rio certamente a torna capacitadíssima para o Ministério das Cidades;
  8. Marta Suplicy – Ministério das Cidades: Uma outra opção para o mesmo Ministério, para responder àqueles que dirão “Temer nunca nomearia Benedita pois ela é do PT” é Marta Suplicy, que já foi prefeita de São Paulo e pertence ao mesmo partido do presidente, o PMDB. Também foi deputada federal, ministra do Turismo, ministra da Cultura e a primeira mulher vice-presidente do Senado Federal;
  9. Maria Luiza Viotti – Ministério das Relações Exteriores: Em 2009, Maria Luiza tornou-se a mais importante mulher da história da diplomacia brasileira ao representar o Brasil no órgão decisório máximo das Nações Unidas, o Conselho de Segurança. Hoje Maria Luiza é embaixadora do Brasil na Alemanha. Imagine que bela chanceler daria!
  10. Luiza Erundina (PSOL) – Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário: Tá, a gente sabe que nem ele convidaria, nem ela toparia, mas uma garota pode sonhar, vai! Erundina é uma das mulheres de mais fibra da política brasileira.  Assumiu seu primeiro cargo público em 1958, como Secretária de Educação de Campina Grande, na Paraíba, seu estado de origem. Foi perseguida e combateu a ditadura militar. Participou da fundação do PT, mas soube cair fora quando a coisa começou a desvirtuar. Em 1982 elegeu-se vereadora da cidade de São Paulo, quatro anos depois, foi eleita deputada estadual e em 1988, prefeita da maior cidade da América Latina, São Paulo, sendo a primeira mulher a assumir o cargo. Foi ministra da Secretaria da Administração Federal, no governo Itamar Franco. Hoje é deputada federal.”

Só temos uma coisa a fazer, lamentar e lutar para nossas conquistas não retrocedam ainda mais.

Ser Mulher

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on março 11, 2016 by Psiquê

 

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Nesta semana tivemos um dia mundialmente conhecido como Dia Internacional da Mulher, dia 08 de março. E, apesar de há alguns anos, já perceber o aumento da consciência da importância dessa data no sentido de recordar os avanços que alcançamos até o momento e muito do que ainda precisamos conquistar. Em 2016, eu percebo que esse fenômeno alcançou uma dimensão ainda maior, o que é muito positivo.

Muitos compartilhamentos foram feitos na linha de “Não dê parabéns, dê direitos“…e por aí vai…

Ainda temos muito, muito o que conquistar nesse mundão cruel e sexista, mas é certo que temos muitas mulheres unidas nesta luta e muitas ainda a entrar nela…

Hoje recebi um texto bem interessante, de um homem,  que provoca a reflexão sobre vários pontos importantes em relação ao que nós, mulheres, ainda vivemos diariamente.

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Compartilho com vocês, ele foi escrito por Débora Nisenbaum para o Medium.

8 atitudes para homens que querem ir além do 8 de Março

É sabido que ser mulher define sua existência social. Vai definir as oportunidades que você vai ter, os ambientes que vai frequentar, sua vivência de sexualidade, sua possibilidade de sofrer mutilação genital e outras violências de gênero como estupro, agressão doméstica, feminicídio e assédio sexual.

Então a todos os homens que estão se manifestando nesse dia 8 pelo respeito às mulheres, eu dedico esse manual de como melhorar ativamente a vida das mulheres que lhes cercam. Sem flor, sem chocolate, mas com benefícios reais.

1 — Olhe mais para as mulheres que te rodeiam

Se você conhece cinco ou mais mulheres, é estatisticamente provável que você conheça pelo menos uma que tenha sido estuprada, assediada ou violentada por um parceiro. Você não precisa sair perguntando — até porque não é toda mulher que quer compartilhar a dor dessas feridas. Apenas pense que elas provavelmente sofreram e sofrem tipos de violência com os quais você jamais terá que lidar, porque você nasceu homem. Faça disso um exercício de empatia. Hoje estão rolando no Facebook centenas de posts em que mulheres dizem o que já deixaram de fazer por serem mulheres. Dê uma lida, assim você pode entender melhor nossos medos e anseios.

2 — Pare de “ajudar” nas tarefas domésticas

Se você divide sua residência com uma ou mais mulheres, extermine essa noção da ajuda no trabalho doméstico. Ele é responsabilidade de todas as pessoas que moram no lugar. Você não deve ajudar, deve assumir. Dividir tarefas ajuda a equilibrar a quantidade de tempo que cada um gasta com elas, eliminando o que se torna, por vezes, uma jornada dupla de trabalho para mulheres.

3 — Elimine do seu vocabulário expressões misóginas

Vadia, vagabunda, piranha e tantas outras. A linguagem é uma ferramenta poderosa de dominação. Usar palavras, xingamentos e expressões que atacam a mulher por sua sexualidade ou que atribuem à feminilidade um caráter derrogatório (“coisa de mulherzinha”, por exemplo) apenas contribuem para a manutenção de uma cultura violenta com as mulheres.

4 — Repense seu consumo de pornografia

A pornografia é uma das indústrias mais violentas com as mulheres — e das que mais colaboram para a normalização dessa violência. Se você quiser se informar mais sobre o assunto, assista ao documentário Hot Girls Wanted (disponível no Netflix) e a esse vídeo do Ran Gavrieli. Existem também centenas de depoimentos de ex-atrizes pornô na internet, contando como eram forçadas a fazer cenas que não estavam no contrato, a transar sem preservativo com atores que não haviam feito exames de DST’s e outras práticas abusivas. Financiar essa indústria é desrespeitar a dignidade feminina, não só por causa das grandes produtoras, mas também pela quantidade imensa de vídeos e fotos provenientes de pornografia de vingança circulando na internet.

5 — Assuma o dever da contracepção

Use camisinha. Simples assim. Ah, preservativo incomoda? Aposto que pagar pensão por 18 anos vai te incomodar mais. Gonorreia também incomoda pra cacete — e já existem variedades resistentes ao tratamento. Não abra mão do preservativo e nem pergunte se precisa mesmo, só use. Se você está namorando ou é casado e vocês preferiram adotar a pílula, divida os custos com ela. Os hormônios mais modernos do mercado chegam a custar 70 reais, todo mês.

6 — Elimine do seu cotidiano práticas machistas

Chega de cantada de rua, foto de pinto não solicitada, puxar a menina pelo braço na balada, buzinar pra garota na rua e tantas outras práticas escrotas. “Ah, mas tem mulher que gosta!”, tem sim. Também tem muito cara que ama fio terra, mas eu não saio no meio da rua enfiando o dedo no cu de cada homem que vejo. Além disso, a cantada reflete uma dinâmica de poder, não de interesse sexual. Toda mulher que já confrontou um desbocado na rua sabe disso. Pare de praticar essas atitudes e censure seus amigos que praticam. De nada nos adianta um cara que se diz a favor do respeito com as mulheres, mas faz a egípcia quando o brother tá assediando alguém. Isso vale também pra julgar mulheres que vivem sua sexualidade livremente. Quando você chama uma mulher de vagabunda porque ela transou com 25 caras, tudo que isso faz é mostrar que você tá chateado por não ter sido um dos 25.

7 — Reveja sua masculinidade

Pra muitos caras, ser homem está ligado a repudiar feminilidade e garantir que não se associa a ela de maneira alguma. Isso passa por dizer que homem não chora, recusar demonstrações de afeto de um irmão ou amigo, ser homofóbico (que nada mais é do que reproduzir misoginia pra cima de homens cujo comportamento é considerado feminino), dizer que fulano faz tal coisa como mulherzinha e até recusar certas posições sexuais (pois é). Enfim, demonstrar de todas as formas possíveis e imagináveis que você não compactua com tudo aquilo que está culturalmente ligado ao feminino (emoção, compaixão, doçura, carinho, cuidado). Isso tem dois efeitos principais: o primeiro é a manutenção da ideia de feminilidade como algo fraco e inferior, o que é péssimo pras mulheres. O segundo é que todo mundo percebe que você é inseguro. Construa seu valor como ser humano sobre o seu caráter, sua integridade e sua capacidade de respeitar o próximo, ao invés de equilibrá-lo nas finas estacas de cristal da Masculinidade do Cabra Macho Que Não É Viado Não Hein™.

8 — Ouça as mulheres. Literalmente.

Você discute com seu dentista sobre a obturação que ele fez? Acha que manja mais de eletrônica do que a pessoa que consertou seu computador? Não, né? Então não ache que você tem mais cacife que uma mulher pra discutir questões de gênero. Você não tem. Ouça as demandas das mulheres, entenda, pesquise-as com cuidado, considere seus privilégios enquanto homem. E não interrompa (sério, isso é um fenômeno mensurável e até meio bizarro). Não crie o hábito irritante de reproduzir o que uma mulher acabou de falar (também conhecido como mansplaining). E sabe aquele papo de que mulher fala demais? Ele só existe porque a nossa fala não é comparada à fala masculina. Ela é comparada ao silêncio.

Não naturalize as merdas que um homem faz

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 27, 2015 by Psiquê

Este texto que compartilho com vocês é de Stephanie Ribeiro e foi publicado no site Imprensa Feminista. Resolvi dividi-lo com vocês, pois chama a atenção para discussões superatuais sobre a naturalização de comportamentos preconceituosos e tendenciosos em relação às mulheres, que aos poucos estamos identificando e repudiando. 

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“NÃO NATURALIZE AS MERDAS QUE UM HOMEM FAZ

 25.12.2015, por Stephanie Ribeiro

Um texto para homens.

Então leiam até o fim.

Um dos grandes problemas na hora de se debater machismo, é que comportamentos machistas são vistos como normais e sendo assim atitudes naturais do seres humanos. E não isso não é verdade! No momento que você homem compactua com determinada ação de cunho machista, do seu pai, irmãos, amigos, etc. Está simplesmente dando a está ação o aval de algo normal, ou seja, você está contribuindo para a manutenção dessa opressão e do privilégio masculino na sociedade.

Mas como assim?

Meu pai abandonou minha mãe grávida da minha irmã, quando eu tinha apenas três anos. Sabe quantas pessoas deixaram de falar com meu pai no ciclo de amigos dele? Nenhuma. Sabe quantas pessoas cobraram que ele fosse uma pessoa presente nas nossas vidas? Nenhuma. Amigos dele inclusive sabiam que eu era filha dele, o que ele tinha feito e simplesmente lidavam com desdém comigo.

Afinal o patriarcado te ensina independente do seu gênero, a ter empatia com homens e odiar mulheres. E vocês seguem essa regra direitinho.

As pessoas ao longo do tempo naturalizaram o comportamento do meu pai, que é muito comum entre homens. Afinal todos disseram que ele não tinha maturidade para lidar com a questão. Maturidade essa que minha mãe também podia não ter na época, mas que não fez ela fugir das responsabilidades. Hoje somos duas mulheres criadas e educadas, que estamos colhendo frutos do esforço e doação dela.

Mas sempre peço que não romantizem essa história! Minha mãe abriu mão de sua vida por nós, e isso não é bonito ou justo. Inclusive ao contrário do meu pai, minha mãe foi cobrada! Cobrada pelos familiares, se afastou de amigos, deixou a diversão de lado, entre outras coisas que ela perdeu por ter que dar conta de educar duas filhas. E todo e qualquer erro/desvio que minha irmã e eu cometemos, cai nas costas dela.

Acho importante falar sobre isso num país onde homens assumem comportamentos machistas de forma tão natural, que se permitem chamar uma mulher de gostosa no meio da rua, assediar meninas no twitter, enganar as companheiras e mesmo assim se sentem no direito de compartilhar vídeos e postagens ofendendo Fabíola.

Homens que se dizem castrados por teorias feministas, porém continuam gozando do direito de trair suas companheiras numa mesa de bar. Até os que se dizem não serem desse “tipo”, numa situação dessas apenas olham e agem como se isso não fosse problema deles. Afinal, na educação machista brasileira não só o homem PODE errar, como seus erros sempre serão defendidos e naturalizados por outros homens. E até por mulheres que reproduzem machismo.

“Ele não sabe o que faz.”

“Ele é tão imaturo.”

“Eu não acho certo o comportamento dele, mas vou deixar de ser amigo do cara?”

Entretanto se fosse uma mulher vocês agiriam diferente!

Até porque, eu tenho plena consciência que o chato é ser amigo/namorado/parente da moça feminista. O legal é compartilhar momentos e vivências com o machista. E assim seguimos vivendo o mundo onde gritamos com as mulheres chatas e dividimos bebida com os machistas que são nossos amigos.

Uma mulher que comete os mesmos erros de um homem. Recebe conselhos que seriam basicamente: Você não se valoriza e ninguém vai te valorizar.

Mas o que os homens fazem que merecem tanto serem valorizados? Que merecem sempre uma segunda chance?

Eu realmente não defendo que a gente traia parceiros. O problema é que enquanto homens forem livres para serem verdadeiros escrotos sem cobrança nenhuma, ninguém poderá sair atirando pedras em nós mulheres. O seu amigo pode trair a companheira uma noite antes do casamento com algumas prostitutas, que você vai continuar chamando ele de irmão. E ainda exibirá fotos chorando no dia do casamento, nas redes sociais.

Tudo porque, você é tão machista quanto ele! E naturaliza essas ações, sendo apenas empático com HOMENS (cis e hétero).

A falta de respeito com uma mulher é totalmente admitida. Inclusive homens que se dizem pró feministas circulam nesses meios, sabem dessas histórias, e preferem lidar como se isso não fosse problema deles. É muito fácil se dizer apoiador de feminismo na frente de mulheres para parecer uma boa transa, um bom cara. Sendo passivo ao comportamento misógino de seus conhecidos.

Na sociedade onde ainda é permitido homens agredirem as parceiras, serem abusivos com elas na frente de seus filhos e irresponsáveis dentro de seus relacionamentos. E os amigos, irmãos, e até cunhados continuarem fazendo vista grossa, a gente vai precisar de muitas hashtags #meuamigosecreto. Porque homens precisam ser incomodados e tirados do seu lugar de privilégio, onde ser cretino é normal e natural. Pior, onde eles nunca vivência a SOLIDÃO pelo que são.

Quando não se isola o agressor, se isola a vítima.

Uma das maiores vinganças da sociedade com nós mulheres, é que ela faz de tudo para que sejamos exiladas. Não é uma escolha por ser só, é uma imposição. Ninguém têm um tempo e palavra de apoio para quem é agredida, cria filhos sozinha e/ou é traída.

Não existem compaixão. Só nós culpam.

“Ahhh porque você casou com ele?”

“Você não se dá o respeito!!!”

“O seu casamento não está dando certo, por sua culpa.”

“Você tem que ver problema em tudo?”

Sim eu tenho que ver problema em tudo, pois nada está normal para mim. A corda está arrebentando só do meu lado. E por isso eu vou ser sempre a pessoa não desejada nas mesas de cerveja, no ciclo de amigos e no final de semana em família. Afinal, vivemos num mar de solidão e cobranças, da sociedade onde se sabe que estamos abraçando um machista, enquanto sua mulher chora escondido em algum canto, e quem se importa com isso é chamada de chata.

Sejamos todas feministas chatas num mundo onde cretino é sinônimo de homem. E para muitos isso é natural.”

O machismo revestido de cavalheirismo

Posted in Comportamento, Curiosidades, Desrespeito with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on setembro 2, 2015 by Psiquê

Recentemente a página Não me Kahlo publicou um texto que reflete muito algumas conversas que já tive com meu marido em que ele sempre defendeu que cavalheirismo é uma forma de machismo e que algumas mulheres resistem a repreender alguns “cavalheirismos” por pura conveniência e não por convicção.

Eis que me deparo com o texto desta página que adoro e acompanho frequentemente. Compartilho com vocês o texto.

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O texto ‘O machismo revestido de cavalheirismo‘, foi publicado no último dia 31.08.2015 e é de autoria de Ana Pompeu.

“A Câmara dos Deputados é, em número de frequentadores, uma cidade. Com tamanha circulação de pessoas, é comum que a espera por elevadores forme filas. Há cerca de duas semanas, dos seis elevadores disponíveis, um estava em manutenção, dois são exclusivos para parlamentares, um preferencialmente de serviço, os outros para uso comum. Em uma quarta-feira, dia de trabalho intenso no Congresso, uma grande fila se formou num dos andares do anexo IV da Casa. Um deputado chegou, chamou o elevador pelo interfone e fez o anúncio: “quem quiser me acompanhar, venha comigo! Mas só as mulheres hein?”, e riu. Boa parte das mulheres da fila se sentiu lisonjeada e o acompanhou.

O episódio virou uma discussão com os colegas de trabalho. Um dizia que era um absurdo, machismo travestido de cortesia. “Faltou dizer que só as bonitas poderiam seguir com ele. Ele chamaria as da limpeza pra ir junto?”. Outro questionou se não era exagero. “Só foi gentil. Hoje, quem é gentil recebe respostas atravessadas de mulheres que entendem como machismo”, lamentou o colega realmente sempre muito cortês.

O Congresso Nacional, como um retrato da política brasileira, é dominado por homens, brancos e engravatados. Cada ato dito gentil, como o do deputado em questão, reforça o papel das mulheres na Casa — bem como na política, nas esferas de decisão e poder do país. A nossa função é estética, acessória. Somos bibelôs para mera apreciação masculina. Com educação, o recado é dado.

Gentileza não faz distinção de sexo, raça, classe, estética. E, se mulheres cansadas da convivência diária com agressões variadas, não aceitam aquelas gentilezas pretensiosas revestidas de fingida inocência, são taxadas de exageradas. “O feminismo decretou o fim do romantismo e da cortesia”. O que me parece óbvio, no entanto, é que o cavalheirismo jamais teria tido espaço em uma sociedade em que homens e mulheres estivessem em posições iguais.

Mesmo sem a intenção para tal, a ideia por trás da conta paga no restaurante, da porta do carro aberta, mesmo do casaco cedido no frio é a da fragilidade da mulher. Mulheres são cidadãs de segunda classe que precisam da tutela masculina em cada setor da vida. Mas não todas as mulheres. O cavalheirismo não se repete com a empregada que carrega várias sacolas de compras nas mãos. A porta não é aberta para ela com a mesma frequência que para a patroa.

Certa vez, a psicanalista Regina Navarro Lins, questionando o cavalheirismo em um de seus textos, pontuou:

Que tipo de homem deseja proteger uma mulher? Certamente não seria um que a vê como uma igual, que a encara como um par. Mas aquele que se sente superior a ela. E como disse a atriz americana Mae West em um dos seus filmes: “Todo homem que encontro quer me proteger… não posso imaginar do quê”.

A gentileza pode vir, o homem pode se portar como um cavalheiro, mas a conta não deixa de aparecer. Ela sempre chega. O braço masculino está sempre presente. Não necessariamente grosseiro e pesado. Ele pode ser delicado nesses momentos. Mas, dentro de uma rotina, as flores podem se tornar desculpa ou recompensa para outro tipo de comportamento.

A solicitude também pode facilmente se transformar em descrédito. E isso aparece em situações das mais diversas. A mulher não tem condições de entrar em discussões profundas sobre política. A mulher não tem condições de entender o problema do próprio carro na oficina mecânica. A mulher não consegue fazer a própria declaração de imposto de renda. Logo nenhuma opinião feminina tem valor.

É o chamado machismo benevolente. Aquele que pressupõe que mulheres são seres inferiores. Tão inferiores que, num tempo não tão distante do nosso, em 1929, o Canadá ainda não considerava mulheres como… pessoas! Como diz o agora saudoso Eduardo Galeano no livro Os Filhos dos Dias, elas até se achavam pessoas, mas a lei não tinha a mesma opinião. O movimento de mulheres da época precisou se articular para vencer a Suprema Corte de Justiça para, a partir do dia 18 de outubro, serem, aos olhos da lei, pessoas!

Talvez não seja exagero imaginar que a luta feminista se arraste tão lentamente nas esferas macro por uma percepção de inferioridade feminina ainda tão arraigada no cotidiano das nossas relações. E o cavalheirismo é mais uma faceta, ardilosa, por se passar por gentileza. Por anos, a visão de que as mulheres não conseguem ser independentes e precisam do apoio masculino para as tarefas mais triviais fixou no inconsciente coletivo que, por consequência, não seriam merecedoras de direitos civis e políticos. É o subsídio cultural para as exclusões nos outros campos.

Não peço pelo fim da gentileza. Nada mais elegante que gentileza. Um ato cortês pode mudar o dia de alguém. Mas como não refletir, como não ponderar e como não ficar reticente e mesmo contrária ao cavalheirismo, aquele que só se apresenta de um gênero ao outro? Se quisermos ter voz na política, na academia, na família, temos de dar nossos próprios passos sozinhas. E sermos consideradas capazes para tal. Sem presença ou amparo masculino.

*Ana Pompeu é natural de Uberlândia, entende quando falam em tradicional família mineira. Em Brasília, a capital das linhas planejadas e do céu infinito, se tornou jornalista pela Universidade de Brasília (UnB). E também feminista. Os dois perfis eternamente em construção.

“Que seja em segredo”

Posted in Comportamento, Cultura e Arte, Curiosidades with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on março 24, 2015 by Psiquê

capa-de-que-seja-em-segredo-1426772743325_300x420 Não precisa dizer que estou na fila para comprar… Uma matéria divulgada pelo História Ilustrada e publicada originalmente no Portal Uol, por Guilherme Solari, fala sobre o relançamento de uma obra publicada nos anos 1990 pela editora Dantes, que agora a editora L&PM está lançando, “Que Seja em Segredo“. A obra reúne poemas eróticos de autoria de freiras ou inspirados nelas e “escritos na devassidão dos conventos brasileiros e portugueses dos séculos 17 e 18“, como descreve a própria editora. Trata-se de um relançamento da obra, que já saiu pela editora Dantes nos anos 1990 e havia esgotado. Os escritos são de uma época em que a vocação religiosa não era o principal motivo para jovens serem enviadas aos conventos. Naquele tempo, qualquer mulher considerada “difícil” podia acabar enclausurada. Portanto, esse era muitas vezes o destino das moças excessivamente sexuais, rebeldes, homossexuais, bastardas, das amantes indesejadas e das que perdiam a virgindade antes de se casar ou até mesmo por estupro. Às vezes, até garotas que não eram consideradas problemáticas podiam acabar passando o resto da vida em um convento, graças ao status que as famílias conseguiam por ter uma filha freira. Mas essa clausura não era tão hermética quanto se imagina. Alguns homens iam encontrar as freiras nas missas ou nos próprios conventos, atraídos justamente pela “proibição” representada por elas e pelas fantasias eróticas que isso despertava. Nascia assim a figura do “freirático”, ou “aquele que frequenta freiras”. Esse sujeito podia ter com as religiosas relações que iam desde platonismo inocente até encontros tórridos que não deviam nada a “Cinquenta Tons de Cinza” (não gostei desta obra, mas respeito a comparação do autor do artigo, nota minha, Psiquê), como no relato abaixo.

As religiosas do convento de Santa Ana de Vila de Viana tinham nas proximidades várias casinhas aonde iam, fora de clausura, com pretexto de estarem ocupadas a cozinhar, e recebiam ali homens que entravam e saíam de noite, denunciou em 1.700 o rei, em Lisboa. Nas celas os catres rangiam, os corpos alvos das freiras suavam sob o calor dos nobres, estudantes, desembargadores, provinciais, infantes. Os gemidos eram abafados com beijos 

Ana Miranda, em trecho do texto de introdução de “Que Seja em Segredo”

“Poemas luxuriosos, românticos, por vezes sarcásticos, escritos para e por freiras, em plena Inquisição, documentam tal costume dessa época em que a interdição sexual teve a função de afrodisíaco. Como consequência, celas e conventos eram ambientes de grande licenciosidade”, define a escritora Ana Miranda, vencedora do prêmio Jabuti em 1990 por “Boca do Inferno” e responsável pela pesquisa e o excelente texto de introdução da obra, que não apenas contextualiza o leitor, como também faz uma belíssima reflexão sobre desejo e sensualidade. Entre os freirático notáveis citados em “Que Seja em Segredo” estão o rei de Portugal dom João 5º e o poeta Gregório de Matos. O primeiro era um entusiasta tão inveterado das religiosas que chegou a mandar construir uma passagem secreta entre sua casa na cidade de Odivelas e o convento local, para que pudesse “frequentar as freiras” com maior discrição e receber leituras de poemas com freiras sentadas em seu colo. Já Gregório de Matos deixou depoimentos de suas aventuras com as “cortesãs enclausuradas” no Brasil. Incluindo o curioso relato de quando a cama de uma freira com quem estava literalmente pegou fogo. Decerto resultado de uma vela caída, mas o poeta, conhecido como um escritor “maldito”, atribuiu as chamas ao “amor que queimava os corpos através dos espíritos”.

As freiras, no começo, não respondiam às cartas, e apenas os mais persistentes prosseguiam até receber uma resposta, um bilhete recortado com tesoura, salpicado com água de córdova ou outro perfume caro, dizendo que não podia amar, que era muito feia, coisas assim. Mais uma carta de lá, outra de cá, uma cena de ciúmes, de rivalidade, e estava consumada a aproximação. ‘Já que tem de ser, que seja em segredo’, escrevia finalmente a freira ao pretendente

Ana Miranda, em trecho do texto de introdução de “Que Seja em Segredo”

Veja abaixo alguns poemas eróticos contidos na obra. Trecho de Antonio Lobo de Carvalho Puta dum corno, dos diabos freira, Eu me ausento, por mais não aturar-te; Tu cá ficas, cá podes esfregar-te Com quem melhor te apague essa coceira; Poeta anônimo Quando eu estive em vossa cela Deitado na vossa cama Chupando nas vossas tetas Então foi que me lembrei Linhas brancas, linhas pretas Trecho de poema de Frei Antonio das Chagas Vem a ser que a freirinha Se enamorou de doutra freira Mais que mancebo, cá fora Quis, lá dentro, ter manceba

Sobre o mês da mulher…

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on março 19, 2015 by Psiquê

roda_conversa

No último dia 08 de março, vi uma imagem circulando nas redes sociais que resume o que penso que devemos defender nesta data:  “Dia 8 de março* não dê bombom nem florzinha. Dê respeito.” * e nos outros dias, também. Nesta linha de raciocínio e diante de uma série de reivindicações que data ainda suscita, o texto escrito por Túlio Rossi para a Obvious Magazine, me pareceu bastante providencial. Compartilho com vocês a íntegra da reflexão dele, intitulada: “Sobre o mês da mulher: uma conversa de ‘homem para homem’.

“Tenho observado o que penso, esperançoso, ser uma mudança crescente em termos de visibilidade de pautas feministas, no que emergem diversas matizes de posicionamentos e discursos, variando da crítica refratária ao suporte incondicional às diversas lutas travadas por mulheres nos campos dos direitos, da política, do trabalho, da saúde e da sexualidade.

Nesse sentido, chamaram minha atenção os discursos rechaçando, no Dia da Mulher, atitudes tais como oferecer flores, presentes como lingeries e utensílios domésticos e diversas “homenagens” que reforçam justamente os estereótipos que os movimentos feministas tão arduamente vêm combatendo. Entendo que essas críticas atuam em três eixos fundamentais para qualquer possibilidade de transformação rumo a uma sociedade mais igualitária:

1) Atacam o aspecto mercadológico e consumista no qual um importante conjunto de lutas e reivindicações é descaracterizado e obnubilado.

2) Atacam estereótipos de feminilidade e de “romantismo” uma vez que “coincidentemente”, o símbolo utilizado para homenagear as mulheres em seu dia – rosas vermelhas – é também um dos mais expressivos clichês do jogo de sedução tradicionalmente operado no ocidente e que tem nos homens os agentes principais e nas mulheres, um simples objeto de conquista.

3) Obrigam a repensar uma atitude que, culturalmente lida na chave do elogio e da gentileza, inadvertidamente, contribui para a opressão.

Contudo, temos alguns problemas – eu diria até sociológicos – que me levam a direcionar esse texto aos homens, não como um porta-voz do feminismo, pois não tenho direito e legitimidade para isso. Simplesmente, percebo que, se do lado das mulheres há uma crescente conscientização, do lado masculino, por razões que extrapolam o senso de moralidade, essa mudança ainda é deveras tímida.

Não atribuo essa timidez tanto a um ímpeto calculado de manutenção de privilégios masculinos numa sociedade patriarcal. Um trabalhador braçal de baixa escolaridade e renda, formado num âmbito fortemente religioso e tradicionalista, que se casou cedo, teve filhos cedo e aprendeu que “tem o dever” de sustentar esse modelo de família dificilmente é capaz de enxergar seus privilégios.

Alguém que se endivida em nome da manutenção de certos modelos tradicionais de família e papéis de gênero, alguém que aprende que esta é a “ordem natural” das coisas e que deve tolerar toda sorte de abusos em seu trabalho para manter um sistema amplamente opressor certamente terá dificuldades de se ver como privilegiado.

Tenho certeza que uma série de homens que oferece rosas para as mulheres em seu dia acredita honestamente que está fazendo um bem e é incapaz de associar esse gesto “delicado”, “carinhoso”, “gentil” – fiz questão de enumerar adjetivos naturalizados como características predominantemente “femininas” – a qualquer sinal de machismo.

feminismo

E quanto um homem ou mulher não precisa ler, estudar, ouvir e refletir para se conscientizar do machismo que opera, diversas vezes, involuntariamente? E quantos efetivamente farão isso em uma sociedade já bem estruturada sobre várias desigualdades que se interpenetram, nas quais aquelas de gênero me parecem mais perversas por serem presumidas como “biológicas”, dificultando para muitos a compreensão de sua construção social e histórica?

Não quero, com isso, parecer condescendente ao machismo; muito pelo contrário. Desejo chamar a atenção principalmente dos homens para a necessidade não apenas de reconhecer que gozamos de privilégios em uma sociedade desigual, mas também de marcar que as questões relacionadas a gênero não devem ser assumidas de acordo com o que toda uma geração aprendeu no Xou da Xuxa como uma eterna disputa de “menino contra menina”.

Proponho aqui um exercício tipicamente sociológico de autocrítica. Jamais um homem poderá sentir na pele os desconfortos, medos e inseguranças que uma mulher sofre em uma sociedade machista – da preocupação em tomar um taxi a escolher o que vestir, por onde andar e aonde ir no sentido de se precaver ao máximo de sofrer uma violência sexual, por exemplo. Mas isso não o impede necessariamente de conscientizar-se criticamente de seus gestos e mudá-los.

Penso que é possível aos homens cultivarem mais empatia e, nesse sentido, às vezes tentarem se imaginar no lugar das mulheres com quem interagem. Se o sujeito não tem imaginação suficiente para isso, que tal, simplesmente, escutar? Que tal se dar alguns minutos para ler alguns depoimentos de mulheres em diversos movimentos difundidos na internet como o “Chega de Fiu fiu”?

Que tal se perguntar antes de oferecer uma rosa vermelha – que, vinda de um homem para uma mulher, frequentemente implica um convite ao sexo – se é realmente aquilo que aquela mulher deseja ou ainda: como ela vai se sentir com esse “elogio”? Que mensagens de expectativas implícitas de reciprocidade estão presentes nesse gesto tão simples?

É óbvio que uma rosa não precisa ser e nem é necessariamente um convite ao sexo. Mas dada essa associação tão forte que se constituiu historicamente, a que será que tantas mulheres não se sentem “obrigadas” – nesse sentido a língua portuguesa é fascinante com essa expressão tão peculiar de gratidão que, explicitamente, instaura uma condição de obrigação – ou cobradas a partir de determinados gestos masculinos apenas por serem mulheres?

O exercício da autocrítica é difícil; obriga-nos a sair do que acreditamos ser uma zona de conforto. Mas essa zona muitas vezes é mais um hábito e vício do que um lugar de conforto em si. A desigualdade de gêneros também cria demandas e expectativas por vezes opressoras para muitos homens; das formas que aprendem a lidar com suas emoções a diversas cobranças resumidas no imperativo: “seja homem”.

Quantos jovens não arriscam e perdem suas vidas “sendo homens” em competições de bebedeiras, dirigindo perigosamente ou mantendo relações sexuais sem proteção? E quantos na recusa disso são preteridos e até “feminilizados” de forma pejorativa? Aqui se reforça mais ainda uma significação preconceituosa do feminino ao tornar “mulherzinha” uma ofensa e uma forma de desqualificar alguém, contribuindo para o isolamento social de homens que não correspondem a esse estereótipo de masculinidade, por vezes abusivo com as mulheres.

Tenho minhas dúvidas se a manutenção dessa posição é sempre tão confortável… mas a sua naturalização torna, para muitos, assustadora e desconcertante a simples insinuação de sair dela. Sei que pode soar absurdo, mas muitos de nós homens não tem a menor ideia de que seja possível ser de outro jeito.

O ponto aqui é que lidamos com um problema social e, como tal, fazemos parte do problema, estamos dentro do problema e, justamente por isso, temos a imensa dificuldade de “olhar pra dentro”. Ninguém “olha pra dentro” realmente, diretamente. Esse nível de percepção não é possível literalmente falando. Por isso exige tanta reflexão e esforço mental, pois é sempre uma abstração influenciada por interpretações – nem sempre precisas – de sinais internos e externos.

Na melhor das hipóteses, essa percepção é mediada por algum outro instrumento que produz uma “imagem” do que está dentro. Eu não posso olhar para o meu organismo “de dentro”. Em um exame diagnóstico de imagem, não é para dentro de meu corpo que olho, é para um monitor, é para uma fotografia. Todos fora de mim.

É necessário superar a polarização entre gêneros que lê todo o problema na chave de um antagonismo homem-mulher que assume muitas vezes aspectos de brigas de torcida organizada. É necessário combater, criticar e transformar todo um sistema muito mais complexo, cheio de desigualdades que se cruzam e mudam de lugar constantemente. Pior ainda: este sistema só pode ser transformado de dentro. O desafio é semelhante a trocar o pneu de um carro em movimento.

Nesse sentido, é de suma importância que os homens prestem mais atenção às imagens que as mulheres, em seu ponto de vista específico, conseguem mediar não somente de nós mesmos, mas da nossa sociedade pautada por desigualdades – raciais, sociais, econômicas, de gênero, culturais, etc. – e que é, por meio de todos nós, difusamente opressora e oprimida.

E é de suma importância que os homens cultivem sua sensibilidade, não no sentido estereotipado de gênero como sinônimo de “cultivar seu lado mulher”. Tenho ojeriza dessa expressão. Sensibilidade não tem nada a ver com “ser mulher” assim como brutalidade não tem a ver com “ser homem”. Cultivar a sensibilidade é buscar ampliar a percepção, tanto de si quanto do(a) outro(a); daquilo que não se pode ver, mas se pode sentir e, percebendo isso, buscar interpretar o que se sente.

Cultivar a sensibilidade é estimular o tato, perceber as vezes em que há necessidade de uma aproximação mais suave e cuidadosa. Da mesma forma como aprendemos a “manusear” os pedais de um carro no ato de dirigir e como o emprego da força ou da suavidade nesse ato variará conforme uma série de elementos: do modelo do carro às condições da via, do peso que ele carrega ou do seu tempo de uso. Trata-se de algo que não somente é aprendido mas é constantemente ajustado conforme a situação.

E no fim das contas, o que me deixa às vezes perplexo é que tantas questões de relações entre gêneros são tratadas de forma tão complicada, mas muitas vezes são de puro bom senso e ética. E não é preciso se tornar porta-bandeira do feminismo pra agir eticamente e com bom senso. Ensinar os homens a não estuprar, ao invés de querer ensinar as mulheres a se vestirem para não serem estupradas, por exemplo, é puro e evidente bom senso. Particularmente, não gosto de ser visto na chave de um animal imprevisível que pode se tornar feroz e agressivo conforme um centímetro a mais ou a menos de pele que enxerga.

Ser empático com uma mulher não é um ato de concessão ou benevolência; é um ato de respeito a outro ser humano. Você, homem, não tem obrigação de ser gentil com uma mulher por que “é homem”, “mais forte” e etc. Você tem obrigação de ser gentil com uma mulher – e com homens, trans, travestis, etc. – porque vocês são gente. E o que se tem no meio das pernas não muda nada disso.

Parte considerável dos “privilégios” de homens no patriarcado não constitui privilégios em si, não são direitos de forma alguma legitimados, mas caracterizam abusos. Abusos que se tornaram naturalizados e que muitos creem como direitos, de forma bem parecida com o que acontece em muitos aspectos da corrupção em nosso país – tanto no campo da política quanto na vida cotidiana. Muitos se acham com direitos que não têm e nunca tiveram.

Assim, já é tempo de parar de atacar os direitos humanos reivindicados por mulheres, homossexuais e tantos outros grupos e assumir que nunca tivemos qualquer direito de desumanizá-los como fazemos sistematicamente.

 

Puro preconceito

Posted in Comportamento, Curiosidades, Profissão, Sexo with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on janeiro 27, 2015 by Psiquê

678727_35Talvez minhas ideias neste post causem mal estar, mas há algo que preciso compartilhar aqui e considero nada mais do que puro preconceito, enraigado em uma sociedade extremamente machista, preconceituosa e (muitas vezes, hipócrita).

No Saia Justa Verão da semana passada, os meninos lançaram o tema prostituição, enquanto negócio, na pauta de discussão. Na ocasião, Léo Jaime relatou uma experiência pela qual passou em Amsterdam, em que passava pelo Red Light District, uma área onde a prostituição é comum (e legalizada): uma das profissionais saiu de uma casa de prostituição e seu marido/namorado/parceiro a esperava na porta, vindo do trabalho, com uniforme da companhia de luz. Ao vê-la, deu um selinho e seguiu de mãos dadas para casa. Na sequência, ele indaga aos demais apresentadores se eles lidariam bem com a possibilidade de sua esposa trabalhar como prostituta.

Certa vez, também conversando com uma psicóloga que gosto muito falei sobre este tema e ela destacou as dificuldades pelas quais passam as pessoas que trabalham se prostituindo e quando querem assumir um relacionamento estável ou ter filhos, sofrem preconceito de seus parceiros ou da sociedade.

Foi então que comecei a pensar que tudo isso só existe porque vivemos em uma sociedade absurdamente machista e preconceituosa, na qual os homens se gabam por pagar pelo sexo, mas consideram inferiores as mulheres (ou homens) que vendem o serviço.

Se a prostituição fosse realmente encarada como um profissão, na qual a pessoa vende um serviço e fora do trabalho vive como outra pessoa que exerça uma profissão qualquer, não haveria sentido algum em olhar torto, fazer piadinha, tratar mal  ou condenar aqueles que fazem desta uma profissão. Mas estamos muito distantes de uma sociedade que consiga deixar o preconceito de lado e respeitar o outro se a sua prática ou suas escolhas forem de encontro ao que se pensa ser certo ou moral.

Na minha opinião esta discussão demonstra o mais puro preconceito e machismo (no caso da experiência brasileira). Mas isso é só uma opinião…que não podia deixar de compartilhar com vocês.

Fiquem bem e respeitem o outro, sempre, independente das escolhas dele.

Gêneros

Posted in Cultura e Arte, Curiosidades with tags , , , , , , , , , on setembro 2, 2014 by Psiquê

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Andei comprando muitos livros legais, difícil é conseguir dar conta de ler todos eles na mesma velocidade com que compro…comecei a ler ontem o História das Relações de Gênero, de Peter N. Stearns.

Nele o autor traça um panorama do relacionamento entre homens e mulheres em diversas sociedades isoladamente e entre si…

…da reação de uma com a outra, a fusão de alguns costumes, da dificuldade de entendimento de padrões mais igualitários e libertários de algumas perante outras mais restritivas e preconceituosas. 

“O que acontece quando uma sociedade que enfatiza a obrigação de as mulheres acatarem a vontade dos homens encontra pessoas de outra sociedade que acredita que mulheres são, por natureza, moralmente superiores aos homens?” O livro fala sobre as interações entre as definições de masculino e feminino e dos papéis designados para cada um deles em diversas culturas que acabam em algum momento interagindo.

Bem interessante a leitura…fica a dica!