Arquivo para mulher

Safo tem obra relançada

Posted in Cultura e Arte with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 9, 2017 by Psiquê

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Um belíssimo resgate à obra de Safo de Lesbos, foi o presente que a Revista Cult trouxe nesta semana. E o Espartilho, resolveu, homenagear este relançamento.

Seus versos foram imitados por poetas gregos e romanos. Pela potência de sua lírica amorosa, foi chamada de décima musa, ao lado das tradicionais nove filhas da Memória. Subverteu a ordem patriarcal da sociedade grega, tornando-se modelo para poetas homens de toda a Grécia.

Apesar dessa dimensão, quase nada se sabe sobre quem foi Safo. Provavelmente nasceu no século 7 a.C em Mitilene, capital da Ilha de Lesbos, próxima à costa da Ásia Menor. A palavra lésbica, anacrônica para se referir à Safo, tem raízes na ilha em que a poeta nasceu. Mantinha uma escola só para mulheres, na qual as professoras eram amantes das alunas, à maneira da tradicional pederastia masculina ateniense.

Compunha seus versos celebrando o amor homoerótico entre mulheres, no contexto ritualístico e performático dessa escola. Foi exilada, por questões políticas, por volta de 650 a.C. na Sicília. Desconhece-se a causa de sua morte.

A dificuldade de delinear quem foi Safo de Lesbos ocorre tanto pela distância histórica quanto pela sua dupla condição de mulher e lésbica, afirma Guilherme Gontijo Flores, tradutor, poeta, professor de Letras Clássicas da UFPR e responsável pela tradução dos Fragmentos completos de Safo, publicado neste mês pela Editora 34.

“Por ser mulher, a sociedade grega patriarcal dava menos valor à sua biografia, havia muito menos interesse em sua história do que em sua poesia. Esse fascínio é tardio, e quando começa a surgir, tem um segundo empecilho, o lesbianismo”, afirma Gontijo Flores. Hipóteses de que a poeta teria se suicidado pelo amor de um homem ou de que teria sido uma cortesã são, segundo ele, tentativas de apagar esse dado de sua biografia.

A partir do século 19, no entanto, foi justamente a sua sexualidade que passou a provocar interesse no público. Segundo Gontijo Flores, esse lugar “fora do eixo” de Safo abre espaço para o questionamento dos valores do cânone literário ocidental, além de ser “fundamental para discussões de gênero”, uma vez que ela foi a fundadora do canto amoroso homossexual no ocidente.

Safo compunha poesia para ser cantada ao som da lira. Por conta dessa tradição oral, suas composições só começaram a ser estabelecidas em texto por volta do século 3 a.C. Dos nove livros que registravam sua produção poética, compilados pelos eruditos da Biblioteca de Alexandria, restaram apenas um poema completo, ‘Hino a Afrodite, e cerca de duzentos fragmentos.

A nova tradução, que Gontijo Flores começou a preparar há dois anos apenas como “experiência afetiva”, sem pretensão de publicar, reúne todos esses fragmentos conhecidos, inclusive um encontrado em 2004 e dois recém-descobertos em 2014.

Mulher, homossexual, a poeta grega vai contra toda tradição literária ocidental. Para Gontijo Flores, a obra de Safo faz o leitor perceber que outra história da literatura era (e ainda é) possível. Uma que não seja centrada na narrativa heterossexual masculina. “Se eu abro o cânone a partir de Safo há uma chance política tanto para repensar o presente e suas possibilidades como para fazer uma revisão histórica profunda.”

Paulo Henrique Pompermaier

Publicado originalmente na Revista Cult

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A verdadeira história do 8 de março

Posted in Comportamento, feminismo, Uncategorized with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on março 8, 2017 by Psiquê

O portal AzMina publicou um texto bem legal sobre a data 8 de março como Dia Internacional da Luta pelos direitos das mulheres. Achei importante compartilhar com vocês.

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O Dia da Mulher é uma data política, que vem da luta de mulheres operárias e não da morte passiva

por LAIS MODELLI

Há séculos, alimenta-se a ideia de que o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, teria surgido por causa da morte de 130 operárias carbonizadas em um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911.

Intelectuais feministas, contudo, afirmam que essa versão trágica do surgimento da data, em que mulheres morreram de forma passiva enquanto trabalhavam, abafa a história de luta e mobilização das mulheres operárias do final do século 19, que se organizavam contra governos e patrões por melhores condições de trabalho.

A principal teórica no Brasil a trabalhar o tema do 8 de março é a socióloga Eva Blay, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e coordenadora do USP Mulheres. Blay explica que a criação da data foi motivada “por fortes movimentos de reivindicação política, trabalhista, greves, passeatas e muita perseguição policial”, e não somente pela morte de dezenas de mulheres exploradas pelo capital.

Segundo ela, desvincular o 8 de março, hoje considerado um dia festivo e capitalista – em que patrões e empresas insistem em “presentar” funcionárias com maquiagem, flores e serviços em salões de beleza – da luta de operárias por melhores condições de trabalho, é uma maneira de apagar a o protagonismo das mulheres em sua própria história social e política.

8 de março: uma data política

Segundo a socióloga Flávia Rios, professora da Universidade Federal do Goiás e coordenadora do Simpósio “Relaciones Raciales y de Género: Identidad, Interseccionalidad y Movimientos Sociales”, o incêndio em Nova York faz parte da história de luta das mulheres, mas como contexto, não como fator único de criação do 8 de março.

“No incêndio, morreram operárias num contexto em que feministas e trabalhadoras faziam forte mobilização pela igualdade na política e por melhores condições de trabalho”, explica Rios.

A própria versão do incêndio é confusa. A mais conhecida diz que, em 1911, cerca de 600 mulheres e homens trabalhavam na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company quando as chamas começaram. Naquela época, os trabalhadores eram trancados nas fábricas e os relógios eram cobertos, para não terem noção de quanto tempo haviam trabalhado. As péssimas condições, com vários retalhos de tecidos espalhados pelo chão do lugar,  ajudaram o fogo a se espalhar rapidamente, matando 125 mulheres, de 13 a 23 anos, e mais 21 homens, enquanto trabalhavam.

O episódio causou comoção nacional e, no dia do funeral, 100 mil pessoas compareceram ao local. O terreno em que funcionava a Triangle Shirtwaist Company hoje é a Universidade de Nova York.

Uma outra versão diz que o incêndio aconteceu no século 18 e o fogo teria sido proposital. O objetivo era o de matar trabalhadoras têxtis que pediam diminuição da carga horária, que naquela época era de até 14 horas diárias, de segunda-feira a sábado, chegando a incluir alguns domingos de manhã. Era comum também os filhos das operárias, ainda crianças, comporem os quadros de empregados das indústrias, pois o trabalho infantil não era proibido e creches não eram um direito das mães trabalhadoras.

“Em 8 de março de 1857, em Nova York, as operárias têxteis entraram em greve pedindo a redução da jornada de trabalho de 16 para 10 horas por dia e recebendo menos que um terço do salário dos homens. Parte das grevistas foi trancada no galpão e a fábrica foi incendiada. 130 delas foram carbonizadas”, explica a cientista política Lucia Avelar, professora da Universidade de Brasília.

A versão mais aceita diz que, segundo Eva Blay, em 1910, a militante Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher, sem definir uma data precisa, no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem.

Para Blay, nenhuma das versões de incêndio foram usadas por Zetkin como motivação, uma vez que, mesmo na versão mais conhecida do incêndio, teria acontecido um ano após a militante propor a data como uma data de luta.

A alemã Clara Zetkin era membro do Partido Comunista Alemão e militante operária das causas das trabalhadoras mulheres. Em 1891, criou a revista Igualdade, que circulou por 16 anos e era formada por mulheres e voltada às trabalhadoras, e em 1920 chegou a ser deputada na Alemanha, defendendo a participação das mulheres na política e no trabalho. Lutou contra o nazismo, mas, com a ascensão de Hitler em 1933, teve que exilar-se em diversos países, escolhendo morar, por fim, na URSS. Morreu naquele mesmo ano, em Moscou.

A proposta de um Dia Internacional da Mulher por Zetkin estabelecia que a data seria um dia de mobilizações de mulheres trabalhadoras em todo o mundo, que abordariam tanto a pauta da questão das mulheres no trabalho, como lutariam pelo sufrágio, o direito ao voto feminino.

Diversas manifestações de trabalhadoras na Europa se seguiram desde a proposta da criação do Dia Internacional da Mulher. Segundo Blay, a manifestação mais famosa aconteceu em 8 de março de 1917, quando operárias russas do setor de tecelagem entraram em greve e pediram apoio aos metalúrgicos.

Essa greve de mulheres teria sido reconhecida por Trotsky como o primeiro momento da Revolução de Outubro, que resultou na Revolução Russa de 1917.

Em 1975, a ONU oficializou o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher por meio de um decreto.

A exploração das mulheres e a formação do capitalismo

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Segundo especialistas, a divisão sexual do trabalho, desde sempre, teve uma função social que ultrapassa os fatores econômicos e trabalhistas: garantir a dominação dos homens na sociedade.

Para a cientista política Flávia Biroli, professora da Universidade de Brasília, a importância de se associar o 8 de março às lutas de trabalhadoras contra seus patrões é a de reconhecer que o capitalismo industrial foi estruturado sobre a subordinação das mulheres.

“A desvalorização do trabalho das mulheres e o controle sobre elas tanto no âmbito familiar quando no público, isto é, na política e no trabalho, são elementos organizadores do capitalismo industrial e permanecem fundamentais para se explicar as conexões entre gênero, trabalho e desigualdades hoje”, afirma Birolli.

O trabalho e a mulher

A socióloga Rios explica que desde a sua origem, o movimento feminista foi organizado sobre três pontos sociais, sendo um deles relacionado à situação de exploração da mulher no mercado de trabalho.

“O movimento feminista sempre esteve fortemente envolvido com o tema da igualdade. Isto é, igualdade nos direitos políticos (direito ao voto), direitos civis (ao divórcio) e direitos sociais (igualdade no mercado de trabalho, como direito à equidade salarial)”, pontua Rios.

A socióloga afirma que, apesar de intelectuais, acadêmicas e até burguesas integrarem o início da mobilização de mulheres no mundo, a situação de desigualdade salarial entre operários homens e mulheres foi um dos principais motores para o movimento feminista no início do século 20.

Mais que isso, o tema da mulher e o trabalho é tão antigo que aparece um século antes das lutas que resultaram no 8 de março. “A divisão sexual do trabalho pode ser encontrada como problema nas precursoras no século 18, como Mary Wolstonecraft. Mas é entre intelectuais socialistas como Clara Zetkin e, mais tarde, Alexandra Kollontai, que essa crítica passou a abranger as relações de classe”, explica Biroli. Mary Wolstonecraft foi uma escritora inglesa nascida em 1759. Ela é considerada a fundadora do feminismo no mundo por causa da sua obra “Reivindicação dos direitos das mulheres”, publicada em 1792.

A cientista política Avelar ressalta, contudo, que as feministas operárias e trabalhadoras sofreram grandes injustiças por não serem consideradas intelectuais ou por não pertencerem a classes sociais privilegiadas.

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“O sufrágio foi uma pauta unificadora desses movimentos, mas os temas relacionados às condições de trabalho e de proteção social, eram prioridade das mulheres trabalhadoras e sindicalizadas”.

Para Avelar, a mulher da periferia, assim como a trabalhadora das camadas mais pobres e marginalizadas, ainda são as mais silenciadas e as menos favorecidas.

“As divisões de classe social, de raça e etnia, separam as mulheres em suas condições objetivas de vida”, explica. “Existe a convicção de que os movimentos feministas e as organizações sindicais caminham juntos, o que é não é completamente verdade. Mas se não fosse a adesão de mulheres de classe média, secundaristas e universitárias às causas das mulheres de periferia, questões como creches, custo de vida, saúde reprodutiva, jamais ganhariam força e visibilidade.”

Agradecimento aos sites  AzMina e Blogueiras Feministas

12 Filmes e Documentários – Histórias de Lutas Lideradas por Mulheres

Posted in Comportamento, Cultura e Arte with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , on março 7, 2017 by Psiquê

Na véspera do dia 8 de março, dia de luta por direitos iguais e empoderamento feminino, resolvi compartilhar uma a postagem do portal Nó de oito em que se apresenta uma lista de 12 documentários que ajudam a contar a história de lutas lideradas por mulheres.

Aproveite as dicas, assista às produções e junte-se à luta.

“O Dia Internacional das Mulheres não é uma data para ganhar chocolatinho e palestra sobre como fazer contorno facial com maquiagem, mas sim para lembrar, celebrar e organizar as lutas por nossos direitos. Sua origem pode ser traçada até o começo do século XX, e passa tanto pelo movimento das mulheres operárias norte-americanas e o terrível incêndio que matou mais de 120  trabalhadoras da Triangle Shirtwaist Company, como pelos inúmeros outros acontecimentos que marcaram a história da luta das mulheres em diferentes partes do mundo.

Pensando nisso, separamos doze filmes e documentários que relembram lutas e movimentos liderados por mulheres que mudaram o rumo da nossa história.

Norma Rae (Norma Rae, 1979)

Sinopse: Como muitos dos integrantes de sua família antes dela, Norma Rae trabalha numa fábrica têxtil local por um salário que não condiz com as longas horas e as péssimas condições de trabalho. Depois de ouvir um discurso de um defensor dos direitos trabalhistas, a jovem é inspirada a convencer seus colegas de trabalho a lutar pela criação de um sindicato. O filme é baseado na história real de Crystal Lee Sutton, que liderou uma campanha contra as condições de trabalho oferecidas pela empresa J.P. Stevens Mill.

Pray the Devil Back to Hell (2008)

Sinopse: Pray the Devil Back to Hell é um documentário que retrata o Movimento pela Paz na Libéria, organizado pela assistente social Leymah Gbowee. Na ocasião, milhares de mulheres cristãs e muçulmanas se mobilizaram para organizar protestos não-violentos que levaram ao fim da Segunda Guerra Civil da Libéria em 2003. O movimento levou Ellen Johnson Sirleaf a ser eleita presidente, fazendo com que a Libéria se tornasse a primeira nação africana a eleger uma mulher como chefe de estado. Em 2011, Leymah Gbowee ganhou o prêmio Nobel da Paz junto com Sirleaf e a iemenita Tawakel Karman.

As Sufragistas (Suffragette, 2015)

Sinopse: No início do século XX, após décadas de manifestações pacíficas, as mulheres ainda não possuem o direito de voto no Reino Unido. A partir de 1912, elas começam a coordenar atos de insubordinação, quebrando vidraças e explodindo caixas de correio para chamar a atenção dos políticos locais à causa. Maud Watts (Carey Mulligan), sem formação política, descobre o movimento e passa a cooperar com as sufragistas, resistindo à pressão da polícia e dos familiares para voltar ao lar e se sujeitar à opressão masculina

!Mulheres Arte Revolução (!Women Art Revolution, 2010)

Sinopse: !Mulheres Arte Revolução é um documentário de 2010 que explora a “história secreta” do movimento de arte feminista dos Estados Unidos nos anos 70 e 80, através de conversas, observações, documentos e obras de artistas visionárias, historiadoras, curadoras e críticas de arte. O movimento artístico feminista foi um movimento ativista que proporcionou um modelo de mudança cultural e política, contra a discriminação, a exclusão racial, e a violência de gênero.

Terra Fria (North Country, 2005)

Sinopse: Mãe solteira, Josey Aimes, é parte do grupo das primeiras mulheres a trabalharem em minas de ferro, em Minnesota. Os homens ficam ofendidos por terem que trabalhar com mulheres e as submetem a constante assédio sexual. Consternada com o fluxo constante de insultos, linguagem sexual explícita, e abuso físico, ela decide abrir uma histórica ação judicial contra assédio sexual. O filme é baseado no livro Class Action: The Story of Lois Jenson and the Landmark Case That Changed Sexual Harassment Law, escrito por Clara Bingham e Laura Leedy Gansler, que conta a história real do processo judicial Jenson vs. Eveleth Taconite Company.

Our Times (Ruz-egar-e ma, 2002)

Sinopse: Da aclamada diretora iraniana Rakhshan Bani Etemad, este documentário explora os esforços das mulheres iranianas para empoderamento focando na eleição de 2002, que contou com uma candidata à presidência, mas acabou com a vitória do polêmico e conservador radical Mahmoud Ahmadinejad.

O Sal da Terra (Salt of the Earth, 1954)

Sinopse: Lançado em 1954, O Sal da Terra conta a história real da greve de mineradores no estado do Novo México (EUA) de 1951 contra a Empire Zinc Company. A maioria de origem mexicana, os trabalhadores protestaram pela melhora nas condições de trabalho e moradia, mas por serem agredidos e oprimidos constantemente, a greve acaba sendo mantida por suas esposas e filhas, que apesar de sofrerem críticas até dos próprios pais e maridos por intervirem, se mantêm firmes até serem atendidas nas reivindicações.

Anjos Rebeldes (Iron Jawed Angels, 2004)

Sinopse: Nos Estados Unidos do século XIX, duas mulheres arriscam suas vidas pelo direito de votar. Juntas desafiam as forças conservadoras de seu país para a aprovação de uma emenda constitucional que mudará seu futuro e o de muitas outras. O filme é baseado na história das sufragistas estadunidenses Alice Paul e Lucy Burns.

License to Thrive (2008)

Sinopse: License to Thrive (traduzido livremente como Licença para Prosperar) é um documentário que explora a história da legislação chamada Título IX, de 1972, que facilitou o acesso à educação de meninas e mulheres nos EUA. Embora seja mais associada ao esporte, nenhuma outra legislação desde a que garantiu às mulheres americanas ao direito ao voto foi mais crucial para a criação de oportunidades para mulheres em todas as áreas, do esporte, até a política, ciência, finanças, entretenimento, artes, negócios e direito.

Filha da Índia (India’s Daughter, 2015)

Filha da Índia relembra o estupro coletivo da estudante de medicina Jyoti Singh em 2012 na Índia, e retrata o movimento social inspirador que tomou as ruas pelos direitos das mulheres e contra a violência de gênero. De acordo com a diretora Leslee Udwin, foram os protestos em resposta ao estupro que a levaram a fazer o documentário. “Eu fiquei fascinada com as mulheres e homens da Índia que tomaram as ruas em resposta a esse terrível estupro coletivo e exigiram mudanças por direitos das mulheres. E pensei que o mínimo que podia fazer era ampliar suas vozes.”

The Hunting Ground (2015)

A realidade de abusos sexuais em universidades dos EUA – omitida pelas próprias universidades – vem à tona quando as vítimas se recusam a se deixar silenciar. O documentário é focado nas ações de duas estudantes que trabalham juntas para unir as vítimas de violência sexual em universidades de todo o país em uma rede para  denunciar e chamar atenção para o problema.

She’s Beautiful When She’s Angry (2014)

Este documentário apresenta um olhar inspirador sobre as mulheres brilhantes e corajosas que lideraram o movimento feminista na década de 1960 e 1970 nos EUA. O documentário mostra que os movimentos feministas surgiram com grande influência dos movimentos de direitos civis na década de 60, e trouxeram questionamentos e a consciência sobre a necessidade de igualdade entre homens e mulheres.

 

Dia Internacional da Mulher

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , on março 1, 2017 by Psiquê

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No mundo ideal, o Dia Internacional da Mulher (celebrado em 8 de março) não existiria, porque seríamos desde sempre tratadas com igualdade e respeito. Como este, ainda não é o mundo ideal, precisamos pensar em várias questões e combater e denunciar diariamente preconceitos, violência, misoginia, sexismo, machismo, mortes…

O Canal Brasil preparou um especial para refletirmos sobre esse momento, a Mostra Dia Internacional da Mulher. “Para homenagear a data, o Canal Brasil preparou uma mostra especial exclusivamente focada em questões relevantes ao universo feminino, com documentários, ficção e entrevistas com grandes representantes da luta pela isonomia e justiça entre os sexos. Muito além dos clichês e chavões recorrentes do período, a programação traz atrações inspiradas ou protagonizadas por mulheres fortes, de grande legado em seus campos de atuação e obras de temáticas atuais sobre o mundo feminil.”

Vamos nos unir para continuar a luta por igualdade de direitos.

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Confira a programação completa:

INÉDITO e EXCLUSIVO: Arte de Menina (2016) (58’) Direção: Deo – Assumir a própria arte como profissão é uma escolha de vida repleta de desafios. Artistas são praticamente unânimes ao relatar as dificuldades do início da carreira, a pouca valorização do trabalho e a pressão social pela escolha de atividades mais tradicionais. Reprimir uma vocação latente, no entanto, também não é uma opção viável para a maioria das pessoas de tal talento. O diretor Deo entrevista mulheres de diversos campos, entre desenhistas, tatuadoras, quadrinistas e musicistas para investigar como surgiu a paixão por seus respectivos ofícios, descobrir os primeiros passos dentro da ocupação e os estímulos e obstáculos por elas enfrentados.

A grafiteira Taís Ribeiro revela saber desde cedo de sua aptidão para o desenho. Ainda pequena, já demonstrava gosto pelos lápis de cor e tintas. Aos seis anos, a tatuadora Gabriela Brito ganhou um livro de Tarsila do Amaral para crianças, e lembra passar os dias tentando reproduzir os quadros da pintora ícone da Semana de Arte Moderna de 1922. Sua companheira de profissão, Nabila Hage, recorda passar horas a fio desenhando em papeis espalhados por toda a casa. A quadrinista e desenvolvedora de jogos Mariá Scárdua conta que desde os três anos de idade queria trabalhar no universo dos quadrinhos, e a baterista Drica Lago diz ter começado a batucar nas panelas antes mesmo de conseguir andar. Em depoimentos bem-humorados, elas relatam as dificuldades da carreira, a imposição familiar por cursos mais convencionais e explicam como tem sido essa trajetória artística até o momento.

Na TV:  Quarta, dia 08/03, às 18h.

INÉDITO e EXCLUSIVO: Olhar de Nise (2015) (85’) Direção: Jorge Oliveira – Nise da Silveira é uma das brasileiras mais fortes e relevantes do último século. A alagoana foi uma das primeiras mulheres a conquistar o diploma de medicina, revolucionou a psiquiatria refutando os tratamentos violentos dados a pacientes na época, utilizando métodos mais humanitários, criou ateliês artísticos para ajudar a recuperação de seus internos e foi presa após a acusação de ser comunista no governo de Getúlio Vargas. O filme dirigido por Jorge Oliveira – com codireção de Pedro Zoca – remonta a história dessa brava mulher trazendo depoimentos e encenações de momentos cruciais da sua vida, além da última entrevista concedida pela clínica em vida, dois anos antes de morrer, aos 94 anos.

O diretor Jorge Oliveira busca na lucidez e na vivacidade da memória da própria Nise da Silveira o ponto de partida para contar a história desta médica alagoana de atitudes corajosas e pioneiras, que marcaram e revolucionaram para sempre o tratamento das doenças psiquiátricas no Brasil. O documentário traz relatos dos seus amigos, colaboradores, intelectuais e ex-pacientes. A equipe da película foi à Alemanha para saber do artista plástico Almir Mavignier como surgiram os ateliês de pintura e modelagem no hospital psiquiátrico no Engenho de Dentro, que revelaram grandes talentos artísticos na década de 1940. Os atores Rafael Cardoso, Mariana Infante e Nando Rodrigues revivem, em cenas de dramaturgia, os principais episódios da vida da psiquiatra e de seus pacientes no Rio de Janeiro.

Na TV:  Quarta, dia 08/03, às 19h.

INÉDITO e EXCLUSIVO: Precisamos Falar do Assédio (2016) (82’) Direção: Paula Sacchetta – As redes sociais foram o palco para o início da chamada Primavera Feminista. No mundo virtual, mulheres de todo o país, das mais diversas faixas etárias, classes sociais, etnias e naturalidades utilizaram hashtags para relatar casos reais de assédio sofridos durante a vida. O resultado foi impressionante. Termos como “Meu Primeiro Assédio, “Meu Amigo Secreto” e “Agora É Que São Elas” ganharam a lista de assuntos mais comentados na Internet, dando a real dimensão da violência contra a mulher no Brasil. A diretora Paula Saccheta busca ampliar essa discussão, tirando o tema das redes e ocupando também os espaços da cidade para debater as causas e os efeitos desse tipo de crime.

Na semana da mulher, de 7 a 14 de março de 2016, uma van fez as vezes de estúdio e parou em nove locais de São Paulo e do Rio de Janeiro. O objetivo era coletar depoimentos de vítimas de qualquer tipo de assédio. Ao todo, 140 decidiram falar. O filme ouviu relatos de pessoas de 14 a 85 anos, de zonas nobres ou periferias das duas cidades, com diferenças e semelhanças na violência que acontece todos os dias e pode se dar dentro de casa, em um beco escuro ou no meio da rua, à luz do dia.

O documentário traz uma amostra significativa dos depoimentos, com 26 entrevistadas, além de mostrar uma parte importante do processo de filmagens: como as mulheres se sentiam ao contar seus casos? Nos depoimentos puros, sem qualquer tipo de interlocução, a obra acompanha desabafos, momentos íntimos e as oportunidades de falarem daquilo pela primeira vez. Nas trocas com as meninas da equipe antes e depois das declarações, a película permite que o espectador entre em contato com uma reflexão da testemunha sobre sua própria história.

Na TV:  Quarta, dia 08/03, às 22h.

ESTREIA: A Dama do Estácio (2012) (22’) Direção: Eduardo Ades – Leon Hirszman dirigiu A Falecida (1965), uma adaptação da obra homônima de Nelson Rodrigues. O filme estrelado por Paulo Gracindo, Ivan Cândido e José Wilker marcou a estreia cinematográfica de Fernanda Montenegro. Quase cinco décadas após seu lançamento, a atriz volta a interpretar Zulmira, uma garota de programa obcecada pela própria morte, no primeiro curta-metragem de Eduardo Ades. Nessa continuação do clássico da década de 1960, a protagonista, já distante da juventude do primeiro ato, continua com a ideia fixa de que está em seus últimos dias. A neurose com o fim de sua existência toma conta de seu pensamento, e ela decide garantir o caixão para seu futuro enterro. Para isso, ela vai mexer com os sentimentos de Tibira (Nelson Xavier), homem apaixonado pela garota de programa.

Na TV:  Quarta, dia 08/03, às 23h30.

 

A mulher no amor depois dos 40

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on dezembro 26, 2016 by Psiquê

Este belo texto, publicado originalmente no A Mente é Maravilhosa, apesar de ainda não ter chegado aos 40, essa é uma reflexão importante para todas nós.

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A mulher no amor depois dos 40

“Quando uma mulher toma a decisão de abandonar o sofrimento, a mentira e a submissão. Quando uma mulher diz do fundo de seu coração: ‘Basta, cheguei até aqui ’. Nem mil exércitos de ego e nem todas as armadilhas da ilusão poderão detê-la na busca de sua própria verdade.

Aí se abrem as portas de sua própria alma e começa o processo de cura. O processo que a devolverá pouco a pouco a si mesma, a sua verdadeira vida. E ninguém disse que esse caminho seria fácil, mas é ‘o Caminho’. Essa decisão em si abre uma linha direta com sua natureza selvagem, e é aí onde começa o verdadeiro milagre”.

– Mulheres que Correm com os Lobos. Clarissa Pinkola-Estés. –

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A mente e a alma têm seus próprios ciclos e estações que percorrem diferentes estados de atividade e de solidão, de procurar e encontrar, de descansar, de pertencer e, inclusive, de desaparecer.

Quando uma mulher amadurece, as relações com ela são diferentes. Inclusive a relação que ela tem consigo mesma vai um passo mais à frente.

Digamos que é perto dos 40 que a mulher sente uma necessidade que não pode deixar de atender: a de retornar a si mesma. Este é o ponto emocional no qual aprendemos a saudar nossas lembranças no momento oportuno, a dançar e a nos acalmar com elas.

É o momento no qual se ama a alma além de nossos erros e do terreno. A partir dessa idade, amando os nossos semelhantes, descobrimos um coração sereno com sangue ardente que nos ajuda a compreender que tipo de pessoa somos, com nossas forças e nossas fraquezas. Porque todos temos ambas e isso não é ruim, mas é precisamente o contrário.

A volta à casa da alma significa nos fazermos conscientes de tudo o que aconteceu em nossa vida anterior, e resolver aqueles conflitos criados nos ciclos prévios à maturidade.

O amor maduro

O amor maduro significa a união à condição de preservar a própria integridade, a própria individualidade.– Erich Fromm –

Não é fácil amadurecer no amor, mas quando conseguimos, nasce um grande amor por nós mesmos que se apoia na dignidade e no respeito. Esses valores, a partir de certa idade e certas vivências, costumam articular o restante dos afetos com os quais nutrimos nosso coração.

Uma mulher madura está mais à frente na sua capacidade de amor quando compreende que a verdadeira transcendência do sentir alheio se resume em como contempla a si mesma e as suas mudanças.

Com o passar do tempo, o mundo feminino irradia uma pureza que se vê ameaçada por uma sociedade corrupta que faz com que as mulheres corram para procurar um refúgio em si mesmas, não para fugir quando algo fica difícil, mas sim para enfrentar a dificuldade.

Então, elas percebem que sua verdadeira casa não está em nenhum lugar afastado do mundo, mas sim dentro delas mesmas. De alguma forma, o amor maduro é consequência de um processo de individualização que pode ser muito doloroso.

Pode ser que ele chegue antes ou depois, mas para todas nós é precedido de alguns anos de distração e falta de foco na nossa identidade emocional. Ou seja, esse “não saber onde estamos e qual é o nosso lugar no mundo” que todas conhecemos.

Seja por ingenuidade, por não prestar atenção ou por ignorância, o processo de maturidade nos faz perder uma pele que nos cobria, à qual nos aferrávamos com força.

Esse sofrimento pela perda de sua pele fez a mulher conviver durante um tempo com uma parte incompleta dela mesma, o que a ajuda a fortalecer a sua verdadeira cobertura emocional.

Quer dizer, este roubo se eleva em cada caso como a oportunidade de recuperar alguns tesouros tão únicos e próprios como são os dois pilares da liberação emocional: a determinação e o amor próprio.

Como resultado, a mulher alcança uma grande sabedoria que lhe faz viver e amar de maneira diferente, única e transcendente. De alguma forma, é capaz de se hidratar e de reconstruir a si mesma, se sentindo inteiramente completa no seu interior.

Como dizem, toda mulher respira uma vida secreta e uma força poderosa cheia de bons instintos, criatividade e sabedoria que encerra o grande poder de um território ainda sem explorar: o fantástico mundo da psicologia feminina.

 

Quadrinhos eróticos por mulheres

Posted in Comportamento, Erotismo, Sexualidade with tags , , , , , , , , , , , , , , , on agosto 5, 2016 by Psiquê

A Revista Trip fez uma matéria bem interessante sobre Quadrinhos eróticos feitos por mulheres. Um tema que muitas vezes é tratado com uma visão muito masculina, precisa ter outras abordagens. Compartilho aqui com vocês.

Beliza Buzollo

“A personagem olha para um pacote verde e pensa que é hora de experimentar aquele vibrador novo. Enquanto usa o novo brinquedo, exclama: “Ai, amo minha relação comigo mesma!”. A página da Garota Siririca, criada pela quadrinista Gabriela Masson, a Lovelove6, é uma das HQs eróticas mais comentadas por leitoras de várias partes do país. E ela não é a única autora brasileira a tratar de autodescoberta, masturbação e prazer feminino nos últimos anos. Cada vez mais são produzidos quadrinhos eróticos feitos por mulheres. Que bom!

“Só sei que me sinto menos sozinha e supernormal lendo LoveLove6, Sirlanney, Cynthia B e Thaís Gualberto, por exemplo. Ver tantas meninas falarem e desenharem sobre sexo me dá uma sensação de naturalidade, sabe? É como se cada vez mais eu estivesse acostumada a refletir e falar sobre um tema que antes eu achava um completo tabu e tinha um verdadeiro medo”, explica a editora Camila Cysneiros.

Muitas quadrinistas começaram a fazer HQs eróticas justamente para tornar cada vez mais confortáveis com seus próprios corpos e com os diversos modos de sentir prazer, um tabu para a sociedade até hoje. Aline Lemos, quadrinista que trabalha com diversas temáticas que abordam empoderamento feminino, conta que começou a fazer quadrinhos na mesma época em que passou a viver mais sua própria sexualidade, ler sobre feminismo e participar de projetos feministas. “Pus bastante disso nos primeiros quadrinhos que fiz. Quando eu era adolescente lia mais Hentai, mas fui me cansando dos estereótipos e do machismo”, conta.

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A maior parte dos quadrinhos eróticos feitos por mulheres traz uma mudança na ótica do sexo nos quadrinhos, transferindo para a mulher o comando na hora de buscar prazer. A quadrinista cearense Sirlanney diz que escreve e desenha para que mulheres se identifiquem e se sintam à vontade com seus corpos. “Se uma mulher olhar meu quadrinho e pensar ‘eu sinto isso e isso é massa’, pra mim já é dever cumprido.” Sirlanney explica que começou a trabalhar com a temática naturalmente: “Eu já tinha ensaiado pequenas pornografias, para meu próprio prazer. Também sou uma fã de carteirinha de literatura pornográfica e, antes de desenhar, tinha escrito alguns contos pornográficos. Estava apaixonada e comecei a fazer quadrinhos direcionados para esse cara. Um deles dizia ‘Acordei com tanta vontade de te dar que comi o travesseiro’.”

Tesão

Aline Lemos conta que o que a excita nas HQs do gênero são as situações sexuais que mostram claramente o prazer dos envolvidos. “Gosto de ver pessoas se curtindo”, diz. Autoras de quadrinhos eróticos usam diferentes abordagens, inclusive a cômica. Um bom exemplo disso são as histórias de Beliza Buzollo, quadrinista que desenha o universo das mulheres LBT (Lésbicas, bissexuais e transexuais) e aborda tesão, sexo, relacionamentos e outros temas de maneira divertida e natural. Já a americana Erika Moen vai além das HQs e contempla também reviews de sites pornôs e objetos eróticos, além de guias ilustrados sobre sexualidade, no site Oh Joy Sex Toy.

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Uma das maiores reivindicações de leitoras e autoras dos quadrinhos que tratam de sexo e prazer é a fuga da perspectiva excludente dos quadrinhos eróticos tradicionais. “Vivemos em uma sociedade onde a sexualidade feminina é reprimida e controlada. Quando uma mulher se manifesta, já está desafiando a situação vigente”, acredita Aline. No entanto, a quadrinista diz que ainda existem muitas barreiras a serem ultrapassadas, como a predominância de corpos padronizados: “Os tipos de corpos privilegiados, os ângulos e situações escolhidos, raramente dão destaque para o prazer e o consentimento feminino”. Para ela, isso é um reflexo da cultura do estupro, presente nos filmes pornôs e nos quadrinhos eróticos também. “Grande parte do que quadrinistas mulheres independentes vêm fazendo precisa continuar sendo feito, porque o mainstream ainda tem muito problema em aceitar corpos diversos tendo prazer de todo o tipo e de forma consensual”, diz.

Há quem diga esses quadrinhos mudaram sua visão do que é o sexo e, mais importante ainda: tem muita mulher descobrindo como ter orgasmos lendo e fazendo quadrinhos.

Texto da matéria, autoria de Aline Cruz.

Vai lá: um guia de autoras de quadrinhos que abordam relacionamentos, sexo, tesão e prazer

Aline Lemos – desalineada.tumblr.com
LoveLove6 – garotasiririca.com
Sirlanney – sirlanney.com
Beliza Buzollo – belizabuzollo.tumblr.com
Erika Moen – ohjoysextoy.com
Thais Gualberto – facebook.com/kisuki.me
Eleanor Davis – facebook.com/squinkyelo
Sirlanney – facebook.com/sirlanneynogueira
Alison Bechdel – dykestowatchoutfor.com

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Luto pelo fim da cultura do estupro

Posted in Comportamento, Conscientização with tags , , , , , , , , , , , , , on maio 27, 2016 by Psiquê

Os últimos acontecimentos no país: o episódio de um estupro coletivo em 27 de maio de 2015, no estado do Piauí e o mais recente fato ocorrido em maio de 2016, quando uma menina de 16 anos foi desumanamente violentada por 30 monstros, chamam atenção para a urgência de combatermos a frequente tolerância para com o estupro e a violência contra a mulher em nossa sociedade.

Se você é mulher, certamente já parou para pensar na roupa que ia usar ou no trajeto que precisaria fazer e nas prevenções que precisaria tomar para evitar algum assédio ou investida na rua. Já temeu que algum homem no transporte coletivo encostasse em você, que em uma rua mais deserta, alguém te seguisse, que o comprimento de sua saia, o modelo do seu vestido ou o corte da sua blusa provocasse reações indesejadas no meio da rua. No Brasil, ser assediada na rua é muito frequente. Embora muitas dessas situações, sejam constantes e quase “inevitáveis” nas ruas do país, o medo é uma coisa que nos acompanha cotidianamente.

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É inacreditável que em pleno século XXI, as mulheres ainda precisem temer tanto por sua segurança. É inadmissível que muitas mulheres e homens em nossa sociedade continuem a culpar a vítima pelo ato de violência sofrido: seja pela vestimenta, pelas escolhas, pelas companhias, pelas atitudes. O respeito deve ser IMPERATIVO, ainda que uma mulher queira colocar uma roupa curta, sair para dançar, usar um batom vermelho, o que for, ela é livre e não pode ser atacada por ninguém. Se ela não quiser ter relações sexuais com quem quer que seja, não é lícito forçá-la, seja qual for a sua ideia em relação a ela.

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O estupro é sempre culpa e responsabilidade do estuprador. A violência é sempre culpa e responsabilidade daquele que violenta. Homens e mulheres são iguais em deveres e direitos perante a lei, e nada justifica qualquer ato de violência sobre uma mulher que queira andar com pouca roupa ou quiçá nua. Os discursos legitimadores de atos violentos na boca de mulheres é mais assustador ainda.

Se você tem acompanhado as discussões dos últimos dias, reflita e se una a todas nós no combate a essa cultura do estupro tão comum em nossa sociedade.

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Aproveito para compartilhar a contribuição de Marina Ferreira em sua página no Facebook que reflete e refuta muito bem o discurso de alguns sobre o comportamento ideal das mulheres “não estupráveis”.

“Se ela estivesse estudando isso não aconteceria!”
Menina estuprada em escola de São Paulo reconhece agressores: http://glo.bo/1TZ6Ej0

“Se ela estivesse na igreja isso não aconteceria!”
Jovem é estuprada dentro de secretaria de igreja em Brasília: http://bit.ly/1NQpoVc

“Se ela estivesse em casa isso não aconteceria!”
Morre jovem encontrada com sinais de estupro dentro de casa na Zona Norte: http://bit.ly/1qMl4Lu

“Se ela estivesse trabalhando isso não aconteceria!”
Jovem é atacada e estuprada a caminho do trabalho: http://bit.ly/1P19Wpq

“Se ela tivesse um namorado fixo isso não aconteceria!”
‘Meu namorado me estuprou por um ano enquanto eu dormia’: http://bbc.in/27UhJvG

“Se ela fosse mais família isso não aconteceria!”
Adolescente com deficiência física é estuprada pelo tio em RR: http://glo.bo/1THnB47

“Se ela fosse menos ‘puta’ isso não aconteceria!”
Menina (de 1 ano e meio) morta em igreja foi violentada: http://bit.ly/1Z3LEM4

“Se ela tivesse mais cuidado isso não aconteceria!”
Jovem é estuprada em estação do Metrô de São Paulo: http://bit.ly/1WnjCgw

#nãoéculpadela #nãoéculpadavítima #pelofimdaculturadoestupro #espartilho #feminismosim #queroumdiasemestupro

A política não veste saia

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , on maio 15, 2016 by Psiquê

Ainda sobre a questão da representatividade que temos abordado nos últimos posts volto a falar sobre a conjuntura de retrocesso atual no que diz respeito à atitudes extremamente misóginas e preconceituosas, junto com traços bastante retrógrados em relação a outros tipos de representatividade.

O tema aqui não perpassa a simpatia ou não pelas decisões políticas implementadas durante a gestão da presidente em seu segundo mandato, mas por questões muito mais profundas e sérias que não podem ser ignoradas.

O texto que compartilho com vocês foi escrito por Thais Viyuela e tamanha é sua lucidez que não pude deixar de compartilhar com vocês.

Paula places her hand on the back of her mother, Brazil's President Dilma Rousseff, after Rousseff received the presidential sash after being sworn in for a second four-year term in Brasilia

Dilma Rousseff e a filha Paula Rousseff | REUTERS/Ueslei Marcelino

“Democracia, substantivo feminino, passível de feminicídio porque ousou vestir suas saias pela primeira vez.”

A frase acima é de Maria Gabriela Saldanha.

Agora, entre as mulheres, paira um sentimento de morte…

É um sentimento de impotência, de silenciamento, de retrocesso. Não falo em política ou economia. Um grupo grande de personagens e circunstâncias é responsável por isso. Falo em representatividade.

Falo de uma mulher que entrou num ninho de cobras, num universo muito machista, sujo e baixo, e jogou o jogo até o fim, um jogo imposto por homens brancos, para homens brancos.

Ela, ao contrário de tudo que se espera de uma mulher, não chorou, não se descontrolou, não fez escândalo, trabalhou de forma firme e séria até agora. Ela não agiu “como uma menininha”.

E isso assusta. Por falta de argumentos, os ataques e os adjetivos ficaram ainda mais ofensivos.

Com histórico de perseguição política e tortura, ela não só saiu viva, como saiu líder dos que a torturaram. Naquela época, Dilma tomou tantos socos que tem problemas na arcada dentária até hoje. Suas sessões de tortura precisaram ser suspensas porque ela teve uma hemorragia uterina que não passava. Seu torturador, um homem acusado de enfiar ratos na vagina de mulheres, foi aclamado publicamente em rede nacional. Apesar disso, se manteve a postura ereta e silenciosa diante do circo do dia 17 de abril de 2016.

Ela jogou tão bem o jogo desses homens que o máximo que se diz sobre Dilma é que ela estava andando de bicicleta no seu tempo livre. Não, nem a roupa, nem algum gesto ou jargão no momento errado. De fato, emagreceu. Quem, no lugar dela, não emagreceria? Fotos em posições desconcertantes para qualquer ser humano não faltaram. Montagens desrespeitosas com o rosto dela também não. Mas nenhum homem foi visto ao seu lado. Ela se manteve unicamente por sua imagem, forte o suficiente.

O sentimento é de que o ministeriado de Temer dará prosseguimento ao jogo desses homens brancos, sujos, já velhos de guerra. Uma guerra construída por eles. Dessa vez, como não se vê há 37 anos, sem uma única ministra mulher num país onde 51% da população é composta por mulheres. O Ministério das Mulheres deixará de existir, como Temer já afirmou. Homem este que exibe sua bela mulher à tiracolo, como mulheres devem se apresentar. Quietas, no canto da foto presidencial. “Do lar”, não da política, nunca da vida pública.

Fácil dizer que o feminismo ou outros movimentos de minorias roubam a cena das principais pautas da política do Brasil. E engraçado pensar que na verdade a minoria é composta por homens, 49% da população, e brancos, 45,9% autodeclarados, que pisaram por séculos em mulheres brancas, indígenas e negras pra conquistar o que lhes interessava. O feminismo rouba as pautas estruturais do Brasil se você está inserido nas pautas desde os últimos 500 anos. Caso contrário, o feminismo exige apenas o que nos é de direito: a representação. Com 51,6% dos votos nas urnas, a questão de representatividade parece, na verdade, estar invertida. A minoria branca e misógina urra com a perda de poder.

Não, não direi “Tchau, querida”, a frase mais nojenta dos últimos tempos. E não me venham com explicações. Sei que não sou a única a sentir a ironia desse afeto, a intimidade não autorizada dessa frase, a deslegitimação da figura pública de uma mulher através de um adjetivo de teor íntimo e pessoal.

Deixo a imagem de Dilma e sua filha porque ela choca. Ela incomoda. A filha Paula Rousseff e sua mãe, ao receber a faixa presidenta do Brasil.

Não se vê ternos, gravatas ou cabelos brancos.

Apenas uma mãe e uma filha que não precisam da figura masculina para estar onde estão.

Com essa imagem e diante de um cenário tão desesperador, a única coisa que me vem à cabeça como um mote de esperança é que a revolução será feminista, ou não será.”

A REVOLUÇÃO SERÁ FEMINISTA.

 

As Sufragistas

Posted in Comportamento, Curiosidades with tags , , , , , , , , , , , , , , on fevereiro 13, 2016 by Psiquê

Talvez não tenhamos consciência de que os direitos garantidos por lei, que temos hoje, são resultados de muita luta. Direitos, este que, ainda hoje não é extensivo a muita gente ao redor do mundo.

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Recentemente em visita ao Museu de Artes de São Paulo  (MASP), conheci a instalação “Elementos de beleza: Um Jogo de Chá Nunca é Apenas um Jogo de Chá“, da artista Carla Zaccagnini.

“A obra é inspirada no livro homônimo da artista, de 2012, sobre as sufragistas, que defendiam o direito de voto para as mulheres nas eleições políticas, em Londres e Manchester, nos anos 1910. Material de arquivo, fotografias, recortes de jornal e registros criminais fazem parte da obra.

A exposição retrata os ataques que as sufragistas fizeram às obras de arte como forma de protesto, procurando desvendar as razões desse protesto envolvendo a arte como marca de sua posição política.

Nas paredes, há representações de molduras, sem as obras, fazendo menção às obras atacadas, como “Vênus ao espelho” (1647-1651), de Diego Velázquez (1599-1660), que recebeu diversos golpes de cutelo. A pintura foi restaurada e, atualmente, se encontra em exibição na National Gallery, Londres.

“Elementos de beleza: Um jogo de chá nunca é apenas um jogo de chá” já foi apresentada na National Portrait Gallery, de Londres, e em outros museus do Reino Unido, Holanda e Argentina.

Nascida em Buenos Aires, em 1973, Carla Zaccagnini é mestre em poéticas visuais pela USP e participou da 8ª Bienal de Berlim (2014), na Alemanha, da 9ª Bienal de Xangai (2012), na China, e da 28ª Bienal de São Paulo (2008), no Brasil.”

Para completar o mês incrível, fui assistir ao filme As Sufragistas (Sufragette) dirigido por Sarah Gavron e com um elenco maravilhoso. Apenas ao assistir ao trailer me encantei, depois de assistir então…

https://www.youtube.com/watch?v=R8le4sZHRdE

Apesar de contar uma história que se passou há mais de cem anos, sua atualidade e “carga de urgência e necessidade de mudança é completamente atual. Em uma época na qual igualdade de salários, representatividade e respeito figuram entre os principais objetos de luta das mulheres – que, frequentemente, costumam ser taxadas de “exageradas” pelos preconceituosos de plantão -, este longa vem para mostrar que, há pouco tempo (ao menos numa perspectiva histórica), esta mesma luta era voltada ao direito ao voto”.

“(…) As Sufragistas acerta em cheio ao instigar, acima de tudo, o incômodo no telespectador em frente à injustiça contra as mulheres e ao mostrar que, apesar de todas as conquistas, que a luta ainda continua”. Imperdível! Maravilhoso! Obrigatório para todas nós mulheres e homens defensores da igualdade de direitos e de gêneros. Corram para o cinema mais próximo para assistir.

VOTE FOR WOMEN!

Leia mais aqui: Omelete

Transformações

Posted in Curiosidades with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on janeiro 31, 2016 by Psiquê

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O Espartilho foi criado há bastante tempo… No ano que vem ele fará 10 anos de existência e, ao longo desses anos, muita coisa aconteceu, muita coisa mudou…

Embora sob um olhar mais apressado o nome Espartilho possa remontar uma época em que as mulheres tinham menos liberdade e autonomia sob si próprias e suas vidas, desde sua criação este blog sempre teve compromisso com a liberdade, as angústias, inquietações, alegrias, prazeres e escolhas femininas. Não é à toa que seu subtítulo diz respeito à tentativa de entender o Universo Feminino. Ocorre que ao longo desses anos, ele também amadureceu e introduziu outros temas também importantes e interessantes e hoje, questiono se não deveria abordar a questão feminina sob uma ótima ainda mais ampla e profunda, incluindo temas que dizem respeito às discussões sobre teoria de gênero, liberdade, direitos e respeito, muito respeito.

Como aqui sempre foi um espaço nosso, convido vocês, meus amados leitores, a acompanhar e compartilhar um pouco dessa inquietude que envolve o tema, dado que vivemos em uma sociedade ainda repleta de insegurança e preconceitos em relação ao respeito às identidades que não se enquadram em padrões conservadores pré-estabelecidos e concebidos como “normais”.

Mais do que entender o “universo feminino”, buscamos entender as prisões, anseios e liberdades possíveis às mulheres, em um mundo em constante transformação. Entender os papeis que, muitas vezes, inconscientemente reproduzimos: com muitos “deveres” considerados femininos, que nada mais são do que a expressão de um pensamento explicita ou implicitamente machista. Já passou da hora de nossa luta ser majoritária e barulhenta, não  há mais tempo a perder. Somos iguais – em direitos, deveres, capacidade e habilidades – e toda e qualquer outra afirmação é preconceituosa e machista.